PROGESTOS_OBGESTOS, 1972-2012

Exposição de António Barros na Casa da Escrita, Coimbra, de 30 de Novembro a 21 de Dezembro de 2012. Ciclo Nas Escritas PO.EX, comissariado por Jorge Pais de Sousa. [Textos. Imagens. Vídeos. Ligações]

Cartaz da exposição >

PROGESTOS_OBGESTOS, 1972-2012

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Esta secção [Textos de enquadramento] tem ligações para vários textos sobre António Barros e recensões críticas da exposição; informações acerca de actividades paralelas, observação formativa e residência artística.

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Excertos de textos sobre António Barros e sobre a exposição na Casa da Escrita >

Uma arte que (d)enuncia a “natureza voyeurista do ser humano”, por José Santiago:

António Barros é residente na Casa da Escrita [com] Progestos_Obgestos, 1972-2012, onde cada peça transcende a obra final com a apresentação do trabalho que lhe deu forma.

O autor ocupou cada divisão da Casa transformando-a num livro, que pode ser lido através da natureza voyeurista do ser-humano.


“Para que cada um se reinvente através da leitura”, por António Barros
[RTP2, ‘ESEC.TV’, 2013-02-12]

Há alguns objetos que denominei de ‘obgestos’, e projetos que denominei de ‘progestos’, peças que estão na sua própria construção e têm uma capacidade genomática de se instruir e fazer fabricar consoante as vivenciações que vou formulando.

Esta “residência” que faço na Casa da Escrita (edifício que tem um compromisso histórico com a literatura, mas onde a minha literatura se transforma diariamente num metabolismo e numa procura), afirma as minhas inquietações, onde muitas delas são as que estamos a viver num país tão prolixo como o que nós temos, e com inquietações tão particulares como as que estamos a viver agora.Aqui não há ‘antes’ nem ‘depois’. É um metabolismo constante.

O que eu crio é partilhável. Partilhado. É fundamentalmente uma vivenciação comungada que tem o contributo de me levar a refletir sobre o lugar onde estamos, e a ‘geografia’ que nós temos que intervencionar para que ela ganhe novas dimensões e novas qualidades – inclusivamente o próprio ‘pensar’; o ‘estar’ no ‘lugar’; ou o ‘estar’ na ‘vida’. É por respiração [que fabrico estas peças pretensamente poéticas, pretensamente artísticas]. Por necessidade da minha própria existência, e para tornar a vida mais realizável. Ou no mínimo, mais suportável. A minha preocupação não é ficar catalogado numa denominação que me crie obstáculos, mas viver sem “paredes”. Como dizia Torga – o universal é o local sem paredes. Estar no local sem paredes. Sem rédeas que condicionem um comportamento ou a uma linguagem de subordinação.


João Fernandes
[RTP2, ‘ESEC.TV’, 2013-02-12]

António Barros é dos artistas que define o objeto de arte através da escrita, através da palavra, através da exploração desse jogo de espelhos que: da palavra ao objeto; à situação, envolve o espetador de forma a o espetador deixar de ser espetador.

Não há um público português. Da mesma forma a que os artistas não são definidos por uma nacionalidade. Há graus diferentes de entendimento, de conhecimento; de aproximação ao objeto de arte. Mas, a obra de António Barros pode ser visível e confrontável independentemente de qualquer conhecimento adquirido. A sua principal função, não é ser entendível por um público, ou ser interpretável por um público de uma determinada maneira. É, pelo contrário, deixar que cada um se reinvente através da leitura que possa fazer dela, ou da interpretação que possa fazer dela.


Mal de Mer, por Augusta Vilalobos
[Project Association Artists, NDC, 10 março, 2012]

MAL DE MER
O mar…
La mer
La mer
Mal de mer
amer

La mer…

Laisser la terre
Terre-mère
Ma mère!

Partir…
Prendre la mer
La peur
La terreur!

Mal de mer
Mal de mer

Jette
Je Te…
Je me jette
à la mer

Mer… De
courage
Courage!
Courage!!!

L’orage
L’orage!!!

Survivre
Résister

Mal de mer
Mal de mer

[si j’aurais su, peut-être que je ne serais pas parti…]

Mais je suis là
Je pars
Je vais
J’y vais!

A pied!!

Aux pieds
des sandales…

La mer emporte tout
La mer tout apporte
Tu importes… Pars!

(Apporte-moi la Mer)


“Não há escrita absurda. O espírito humano tem horror ao vácuo”, por Telmo Verdelho

[“Algias/NostAlgias”, Galeria Capc, ‘Dois Ciclos de Exposições, Novas Tendências na Arte Portuguesa e Poesia Visual Portuguesa’, dezembro, 1980]

Constrói-se à volta da escrita, uma escrita agradavelmente textualizada com muita imaginação, com humor e talvez algum cinismo e sobretudo com uma cuidadosa realização.

A sua insistência caligramática remete quer para o campo das significações literárias, quer para o mundo das relações entre o grafismo, a escrita e as artes visuais.

A escrita é um antiquíssimo e elaborado artifício visual que remete sempre para além de si própria, pressupõe uma emergência semântica. Toda a escrita promove um momento de ansiedade que se satisfaz e se anula logo que se obtém um sentido.

Estas “grafAlgias” recusam um sentido habitual, parecem remeter apenas para essa ansiedade que precede a satisfação da leitura.

Mas não há escrita absurda. O espírito humano tem horror ao vácuo, é um grande organizador de sentidos e de conotações.

O “muro da razão” metódico e delicado, se bem que frágil e inconsistente, é subtil, fecundo e artificial como uma figura de retórica.

O observador-leitor é um dos elementos mais importantes nesta solicitação visual. Caracteriza-se por uma grande ambiguidade do seu estatuto que talvez se possa definir como um ser tanto mais superior quanto mais ridículo, ou o contrário, tanto mais ridículo e fátuo quanto mais superior.


[Vulto Limite], por António Barros
[Project Association Artists, NDC, 2012]

Performance_art é a captação de um gesto limite pretensamente sublime. Uma aura no contorno interior que resista ao ridículo; à máscara que busca a ‘persona’: a identidade – sem poetar a sua condição.


“Essa ‘coisidade’ inquietante”, por E. M. de Melo e Castro
[Da Poesia Visual de António Barros, ‘Com Pés de Vegécio’, São Paulo, março/junho, 2012.]

Quem se aproxime de algumas das obras de António Barros com o intuito de as fruir esteticamente, sente imediatamente que está na frente de enigmas. Enigmas esses que, como todos os enigmas, se destinam a ser decifrados, sendo essa decifração parte fundamental do processo de comunicação que é posto em jogo. Algo de semelhante acontece com a sua imanente natureza de “coisa” de um modo que não é comum em qualquer obra de arte. Essa ‘coisidade’ inquietante creio que não se encontra tão intensamente tratada por outros poetas visuais, artistas plásticos, ou teóricos e críticos, da nossa contemporaniedade. Mas não é só disso que se trata. Estamos tentando falar da razão e da virtualidade que as obras de António Barros contêm e escondem, num espaço para além da sua impecável materialidade e do seu subtil laconismo vocabular, que nalguns casos (umas poucas letras ou palavras) simultaneamente escondem e tendem a revelar… ou não… (e)
No caso do poema cujas imagens apresentei, a que o autor deu o título de “Com Pés de Vegécio”, uma primeira leitura diz-nos de uma referência a Vegécio, autor romano que viveu provavelmente entre os séculos IV e V e que escreveu um Compêndio da Arte Militar, (não sendo militar mas eventualmente um burocrata) destinado à preparação dos soldados dos exércitos de Roma. Essa obra que foi muito divulgada durante toda a Idade Média, inclui capítulos sobre a marcha a pé e as exigências da preparação física para as longas caminhadas. Mas na obra de Barros existe também um livro volumoso contra o qual é comprimido e deformado um par de sapatos por ferramentas chamadas “sargentos” usadas por marceneiros e encadernadores. Se os sapatos são instrumentos do andar, isto é da deslocação espacial do corpo humano, o livro é, pelo seu lado, o instrumento privilegiado da deslocação espacial e temporal do pensamento. Está assim estabelecida uma possível ligação forte entre andar e pensar, que já vem desde a escola peripatética de Aristóteles!

É claro que a emoção estética forte que os “obgestos” de António Barros provocam, lança o seu fruidor em outras pistas de decifração menos óbvias e o fruidor mais exigente que é o crítico, terá que lançar mão de um equipamento de referência, teórico e documental ou até intuitivo, devidamente adequado e pertinente. É então que ocorre o sintagma ‘Idade Média’ como uma possível chave de múltiplos recursos.


“Arte enquanto forma de intervenção permanente”, por Sónia Pina
[Silêncio, meu silêncio! Ausência, minha Ausência, outubro, 2010]

A obra de António Barros conforma uma gramática poliédrica, na medida em que dela exala uma inteligibilidade plural, hipostasiando-se nas dimensões estéticas, filosófica, literária, poética, cinemática, entre outras. Inscrevendo o Visualismo, o Fluxus, a Land-art, e fundindo-se com o texto, sustendo óbvia inscrição caligráfica. A nível das linguagens utilizadas, percorre a poesia, a escultura, a vídeo-arte, a instalação, superando, portanto, visões concêntricas de análise, e infundindo um olhar que se aloca além dos momentos histórico-sociológicos que a contextualizam, porque compreender arte imporá, de certa forma, a capacidade de coexistir na alteridade, aquietado/a, aguardando o momento da revelação.

O artista desenvolveu um percurso personificável na a(r)cção artística, da arte enquanto forma de intervenção permanente, na senda das novas referências oriundas do (pós)estruturalismo linguístico, que prevêm a discussão estética e a práxis artística sob os ângulos da produção de sentido e da performatividade intertextual. O texto é decomposto e recomposto nas suas inifinitesimais camadas de sentido, incorporando a qualidade laboratorial, que, por sua vez, se opera na e pela pesquisa contínua das possibilidades experimentais visuais, espaciais e fonéticas da palavra fora da métrica.
Esta profusão de “significâncias”, patentes ou latentes, remetem para um agenciamento singular da poiética de António Barros, que nos intíma, por definição, a uma (re)descoberta, a uma semiogénese da memória. Materializando-se também o olhar-espelho no processo de imagése da obra, pressupondo-se neste que o reflexo é algo da ordem do mais real que a própria realidade, porque a Verdade depende do ver.

O rizoma de significados, a sua grande capacidade para conceptualizar a obra e uma lucidez singular, dão-lhe o estatuto de poeta-performer, de a(r)tor, na medida em que os textos na obra, os textos da obra, e o dom da escrita que nestes revela, tornam o cerzir em seu torno ab infinitum.


As “artitudes” e os “obgestos” de António Barros, por Dina Sebastião
[Na e Pr’a Lá da UC, Newsletter UC, Setembro de 2011]

Mais do que artista, António Barros é um “artor”, aquele que, nas palavras de Lambert, tem como premissas “libertar a arte do artístico e libertar os objetos do quotidiano. Colocar os objetos sob a luz da paixão, fazendo com que se evadam da sua situação real-paixão. Propor aos objetos uma vida nova, fazendo-os passar do reino da necessidade para o reino da liberdade (liberdade = imaginário no ato).” Fazem parte dos projetos de António Barros e do seu vocabulário recorrente a “Artitude” e os “Obgestos”, numa alusão à arte como interventora, como atitude social e desafiadora de reflexões, e aos objetos como dialogantes com o público.


Recensão Crítica >

  • “Progestos_Obgestos – ‘Um espectáculo da contemporaneidade’, por Alexandra Leite, domínio Metamorfoses do Espectáculo, Mestrado de Artes Cénicas, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, janeiro, 2013.

Actividades paralelas >

  • Sónia Pina – Investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens da Universidade Nova de Lisboa.”Obgesto Silente”, 14-12-2012. [Texto da apresentação disponível neste Arquivo Digital]
  • João Fernandes – Subdiretor do Museu Nacional de Arte Reina Sofia, Madrid. Leitura da obra de António Barros, 17-12-2012.

Observação Formativa >

  • Curso de Licenciatura do CIAB e de História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Direção do Prof. Doutor Saul António Gomes, 13, dezembro, 2012.

Residência Artística >

  • Realizou o Arq.to João Mendes Ribeiro, autor do Projecto da Casa da Escrita, a apresentação da requalificação do edifício que foi habitado pela Residência Artística de António Barros com “Progestos_Obgestos”, no âmbito da iniciativa ‘Nas Escritas PO.EX’. A mostra, inscrita no Ciclo VGA-Visitas Guiadas Pelo Autor, iniciativa da Ordem dos Arquitectos, Secção Regional do Norte, Núcleo de Arquitectos da Região de Coimbra, surgiu a 11 de Abril de 2013, 18h00-20h00. [Ler tb > Entre o objecto de arte e a especificidade arquitectónica do lugar, por João Mendes Ribeiro]

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