Texto de António Barros em resposta a solicitação da investigadora Alexandra Silva para estudo de doutoramento em torno da realidade sóciocultural nos Anos 80, em Coimbra, com um testemunho da memória pessoal vivenciada pelo autor. [Texto]
Anos 80 • Em modo Testemunho • António Barros
São múltiplos e pluridisciplinares os referentes trabalháveis inerentes às problemáticas da Arte nos anos oitenta na cidade de Coimbra.
A matéria é deveras vasta. O tempo e o lugar para a enunciar insuficientes.
Zelarei, contudo, por responder ao solicitado pelo presente estudo [Tese de doutoramento em torno da realidade sóciocultural nos Anos 80, em Coimbra, da investigadora Alexandra Silva] trazendo um, ainda que ‘fugaz’, testemunho da memória pessoal vivenciada.
Do que me obrigou “envolvência”, trago aqui algumas linhas expositivas. Convocam estas, uma procura maior que espero a leitura de alguns textos que tenho publicados, possam, num ‘lugar depois’, fazer resultar essas consultas contributivas.
Vejam-se estes agora ‘momentos textuais’ como uma “conversa”. Essa, no modo leve das “conversas vadias” (como José Ernesto de Sousa muito gostava de classificar quando nos enunciava temas de Arte).
Abordo aqui três territórios de potencial observação. Momentos que podem resultar orientadores de formulação de um esquiço para um dos desenhos possíveis do “lugar Coimbra”. Rosto no mapeamento definido para este segmento temporal balizado por duas décadas distintivas.
1. Momento primeiro – Lugares que habitei enquanto estudante na “moldura Coimbra”, nessa temporalidade, e alguns percursos consequentes:
Passei a residir em Coimbra a partir de 1973 onde estudei Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.
Ainda nos anos setenta iniciei atividades operativas e directivas no domínio da Cultura em unidades da Academia, parte integrante da Universidade de Coimbra, mormente no Círculo de Artes Plásticas (CAP); Centro de Estudos Cinematográficos (CEC) – onde integrei o Júri do Festival Internacional do Filme Amador de Coimbra; e no Centro de Estudos de Fotografia (CEF) – onde criei a Identidade Visual de diferentes programas.
No arco temporal que inscreve a década de oitenta, centrou-se a minha atividade no CAP/CAPC (onde, aí, inscrevi o Corpo Fundador do Organismo Autónomo: Círculo de Artes Plásticas da Academia de Coimbra (CAPC) e suas Estruturas Directivas). No Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra (CITAC), vim a assumir a Direcção Artística da unidade: Teatro Estúdio – programa editor do Simpósio “Projectos & Progestos”, assim como atividade criativa, curatorial e de assessoria no domínio das artes plásticas para espetáculos, exposições e publicações nos Encontros de Fotografia (CEF); no Coral dos Estudantes de Letras da Universidade de Coimbra (CELUC); no Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC) – onde trabalhei domínios etno-cenográficos; na Rádio Universidade de Coimbra (RUC) – onde criei a Identidade Visual para a RUC (marca hoje ainda vigente) aí dirigindo o programa Cultural de Rádio: “Círculo Branco num Quadrado Negro, Círculo Negro Num Quadrado Branco – uma Pintura de Malevitch”, e, integrei o Conselho Artístico da Bienal Universitária de Coimbra (BUC).
Ainda no CAPC, criei o laboratório de investigação pedagógica: OIC-Oficina de Interacção Criativa – Direcção Científica de Alberto Carneiro.
Fundei e dirigi a Revista Experimental de Artes Performativas “Artitude:01”; o Grupo de Teatro “Alípede”; e integrei a Directoria da Revista “Via Latina” (Direcção Geral da Associação Académica de Coimbra); o Corpo Redactor da Revista “Música em Si”, da Tuna Académica da Universidade de Coimbra (TAUC), e o “Grupo CORES” (Grupo de Intervenção do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra). Criei a Identidade Visual (que hoje ainda o afirma) do Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), hoje no domínio da Fundação Cultural da Universidade de Coimbra, onde, mais tarde, vim a inscrever os Corpos Directivos.
Após as dinâmicas galvanizadas nos anos oitenta, e delas de modo consequente, operei uma actividade continuada nos anos noventa no domínio das artes visuais, residindo entre Coimbra e Barcelona – onde vim a diplomar-me na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Barcelona.
2. “Progestos” envolventes, artes performativas, razões de “artor” e outras ‘contaminações’:
Na territorialidade dos anos oitenta na cidade de Coimbra, em lugares de vivênciação alternativa (“Artist-Run Spaces” geradores da “Geração Black Cube”), formularam-se novos conceitos e entendimentos da Arte: “Arte=Vida/Vida=Arte” (FLUXUS); “Artor” (J. C. Lambert), “Artitude” (Abraham Moles); “Actuante” (Jerzy Grotowski); “Arte de Situação” (Guy Debord); “Lebenslauf/Werklauf” (Joseph Beuys); “Dé-coll/age” (Wolf Vostell); “Vanguarda Como Tradição” (Ernesto de Sousa); “Progesto”/”Obgesto” (Artitude:01/António Barros).
Procurava-se fazer ‘vigorizar’, então, uma política de “contaminação” e de partilha.
A experienciação ocupava o lugar da experimentação. “Realizar”, galvanizando a vivenciação (Tarkowsky) tornou-se fundamental. A então emergente fómula (poético-visual): “Não há poesia, há situações poéticas; Não há poetas há vivências poéticas” cumpre princípio norteador [“SituAcções PoÉticas”, António Barros, 1980, Museu de Arte Contemporânea, São Paulo, Brasil; Colecção Professor Fernando Dias, Brasil].
A cidade de Coimbra resulta assim, no então arco temporal da década de oitenta, a geografia eleita para o lugar estaleiro sintonizador das minhas pesquisas operativas e produção artística fundamental. Emissora também.
Pelas ‘experienciações’ que as práticas desse tempo convocavam – norteadas por uma filosofia ‘fluxista’ cuja aplicação de princípios havia já sido iniciada nos anos setenta (tendo eu trabalhado com Wolf Vostell, Robert Filliou e Serge III Oldenbourg) -, surgem nos desígnios da prática colectiva e numa construção partilhada, novas práticas de vida e de sentido.
Para essa operacionalização fiz por criar diversas estruturas grupais e eventos exploratórios de estudo e aprendizagem (Artitude:01; Projectos & Progestos; OIC-Oficina de Interacção Criativa; VideOporto).
A atividade produzida em Coimbra tem assim difusão múltipla (nacional e internacionalmente sinalizada) e, de modo proliferativo, efeitos consequentes como ilustra o alinhamento dos exemplos seguintes:
No primeiro ano da década de oitenta [ 1 9 8 0 ], comissariado por Ernesto Melo e Castro, surge a exposição antologia viva do “Visualismo”: “PO.EX.80” (editada na Galeria Nacional de Arte Moderna, em Lisboa, e em resposta a um desafio do então Secretário de Estado da Cultura, o pintor João Vieira).
Inscrevem a colecção “PO.EX”, exemplos da minha produção primeira no domínio da “Poesia Experimental Portuguesa” produzida em Coimbra. Actividade esta, apresentada também na Galeria Joan Prats, em Barcelona, com Ana Hatherly, em “Festa de La Lletra”.
Ainda neste mesmo ano, no Brasil, surge a mostra de trabalhos de Poesia Visual no “Espaço NO”, Galeria Chaves, em Portalegre, e no “1.MIAP”, Galeria Garcia Cid, São Paulo.
Comissariado por Alberto Carneiro e por mim, para a Galeria do CAPC, surgem em Coimbra “Dois Ciclos de Exposições: Novas Tendências na Arte Portuguesa e Poesia Visual Portuguesa”, onde apresentei: “Algias, NostAlgias”, e, na Galeria Nacional de Arte Moderna, em Lisboa, a colectânea: “Poesia Visual – gRitos da Angústia e do Sarcasmo” (hoje parte integrante da colecção “Poesia Experimental Portuguesa” da Fundação de Serralves – Museu Serralves, Museu de Arte Contemporânea do Porto e do Museo Vostell Malpartida, em Espanha). Na Galeria Quadrum, em Lisboa, integrei a Mostra Internacional “Arte Correio” e a representação portuguesa à “SACOM 2”, Museo Vostell Malpartida, Cáceres, Espanha. [“Poesia Experimental Portuguesa”, Dissertação de Antonio Preto para a Universidade do Porto].
No ano seguinte [ 1 9 8 1 ], novas demonstrações da exploração no domínio do “Visualismo” sucedem numa presença performativa em Amsterdam, com “Moduslibra”, na Nieuwezijas Voorburgwal, e em Padova, Itália, na 13 Biennale Internazionale – Museu CAEremitani.
Em Leverkusen, na Alemanha, trabalhei com Wolf Vostell no projeto “VOSTELL FLUXUS ZUG – Das Mobile Museum Vostell 7 Environments Über Liebe Tod Arbeit – Kunst Akademie”. Vivi em Wuppertal onde encontro Pina Bausch e acompanhei a atividade do Tanztheater, identidade artística que vim a divulgar em Coimbra.
Neste mesmo ano (e no propósito de interaccionar a produção realizada com outras experiências comunicacionais) venho a integrar a Comunidade Artística “Árvore”, na cidade do Porto, e, a convite de José Ernesto de Sousa, passo a inscrever a “Diferença – Comunicação Visual”, em Lisboa.
A expansão, a interacção com outras geografias a partir da produção de Coimbra, e a difusão das suas dinâmicas, passa a ser uma realidade presente de partilha e conjugação. A construção de uma pretensa cultura identitária de um tempo à procura de um paradigma de ‘soltura’.
Formulo, assim, a criação da revista performativa: “Artitude:01” [António Barros, Isabel Carlos, Isabel Pinto, João Torres, José Louro e Rui Orfão – colectivo com atividade progressivamente desenvolvida, experienciando diferentes edições como: Artitude.0/revista objecto, Coimbra, 81; Artitude:01/revista ambiente, “Diferença”, Lisboa, 82; Artitude:01/revista operação, P&P, Coimbra, 83; Artitude:01/MM-“Acquaplanning”, IV Bienal Internacional de Arte de Cerveira, 84; Artitude:01/revista urbana, Coimbra 84; Artitude:01/WS, “Arte=Vida/Vida=Arte”, Rio Mondego, Coimbra, 84; Artitude:01/”Elementos para um Manifesto GerAccionista”, Coimbra, 84; Artitude:01/”Novos Silêncios ou o Elogio da Pantera”, Perform’arte, 1 Encontro Nacional de Performance, Torres Vedras].
Como exemplo alternativo de revista, surge Artitude:01, referência sinalizada por Carlos Oliveira Santos [“Portugal em Revistas”, Jornal de Letras, Artes e Ideias, Lisboa].
É o colectivo de Artitude:01 quem vem a dinamizar o simposium “Projectos & Progestos” para o Teatro Estúdio do CITAC [Curadoria de António Barros e Rui Orfão] na Universidade de Coimbra, 1981-85, iniciativa que eleva Coimbra à denominação, pela crítica, de “Cidade Capital da Arte Performance em Portugal”. José Ernesto de Sousa e Jorge Lima Barreto sublinharam este perfil de condição.
“Projectos & Progestos” traz a Coimbra uma constelação significativa dos artistas internacionais mais representativos, a seu tempo, no domínio da Performance Arte, como: James Coleman, Nigel Rolfe, Julian Maynard Smith, Stathion House Opera, Peter Trachsel, Ernst Thoma, The Basement Group, Erna Nijman, Alistair MacLennan, Plassum Harel, Frank Na, Dominique Labaume, Gzregorz Sztabinski, Mineo Aayamaguchi, Ricardo Pais, Jorge Lima Barreto, Ernesto Melo e Castro, Ernesto de Sousa, Alberto Pimenta entre muitos, numa conjugação expositiva de cerca de uma centena de trabalhos, e da revelação primeira em Portugal da obra de artistas como Pina Bausch, Jon Hassell, Salomé + Castelli ou Lydia Schouten. [“Projectos & Progestos” é matéria da dissertação no doutoramento de Ricardo Seiça Salgado, “A Política do Jogo Dramático – CITAC: Estudo de Caso de um Grupo de Teatro Universitário”, ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa].
É também neste ano que o “grupo CORES” [Grupo de Intervenção do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra com: António Barros, Armando Azevedo, Assunção Pestana, Manuela Fortuna, Rui Orfão, Teresa Loff e Túlia Saldanha] termina as suas actividades públicas (Semana Internacional de Arte Actual, Vila do Conde). Foi o colectivo pioneiro da Arte Performance em Portugal [“Performance ou a arte num lugar incómodo”, dissertação de Isabel Carlos para a Universidade Nova de Lisboa].
[ 1 9 8 2 ] foi tempo da apresentação de trabalhos meus na XII Bienal de Paris, na Galerie Diagonale, Paris, França; na XVI Bienal de São Paulo e no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo: “25 Artistas Portugueses de Hoje”, Comissariado por José Ernesto de Sousa, Brasil; “Arteder 82”, Bilboko Nazioarteko Erakustazoka, Bilbao, Espanha; “Seoul Internacional”, MAE Sungkyunkwan University, Coreia; “Bernd Löbach”, Galerie Für Visuelle Erlebnisse e “Kulturvewavd Tung Berg Kamen”, Kunst Zum Überleben, RFA, Alemanha; “Vostell 50” no Museo Vostell Malpartida, Espanha; “Alternativa 2”- II Festival Internacional de Arte Viva, Almada e III Bienal Internacional de Arte Cerveira, Portugal, 1982.
Neste ano, enquanto co-fundador do grupo “VideOporto – Video Como Forma de Arte”, exploro o domínio do “Conceito” na Arte Vídeo, num colectivo com sede no Porto mas com significativa intervenção em Coimbra [“Televisor e Monitor em Contexto Artístico: 1952-1981”, dissertação de Inês Gouveia para a Universidade do Porto].
Em [ 1 9 8 3 ], uma das actividades exploratórias sensíveis foi o “Livro de Artista”. Objectos-Livro e Operativos, criados a partir de Coimbra, são apresentados em diferentes espaços difusores. Na “Galeria Diferença”, Lisboa: “Tentativas Verdes num Dia de Céu Cinzento”; no Museu de Arte Contemporânea, São Paulo, Brasil: “Textos de Opção”; e em Coimbra: “Mais ExaltadaMente Mil Máscaras”, P&P, Teatro Estúdio CITAC e “LivroaMeias” – ‘operação aberta’ questionando o vulto do texto efémero e perecível.
Obras da Poesia Visual surgem expostas com a Comunidade Artística “Diferença”; na Galeria Gesto Arte, Évora; e na Galeria CAPC, em Coimbra.
Crio (na estrutura pedagógica e de pesquisa do CAPC) a OIC-Oficina de Interacção Criativa – laboratório de Dinâmica Criativa.
Em [ 1 9 8 4 ]: reconhecimento da obra poético-visual “Escravos” – premiada pelo júri composto por Sophia de Mello Breyner Andresen, David Mourão Ferreira, José Carlos de Vasconcelos, Urbano Tavares Rodrigues e Manuel Alegre, no âmbito do Concurso Nacional de Poesia: “10 Anos do 25 de Abril”, Lisboa.
Exposições como: “Ambient’Azione Poetica”, Galleria Artestudio, Bergamo, Itália; “Mein Partner”, Kunst & Handwerk, Rosenheim, RFA, Alemanha e IV Bienal Internacional de Arte Cerveira, enunciam a produção continuada em Coimbra, nas artes visuais performativas e para-teatrais.
Assino a Direcção Plástica de “Katzelmacher”, de Rainer Werner Fassbinder, encenação de Mário Barradas, para o CITAC, IV SITU (Semana Internacional do Teatro Universitário de Coimbra) trabalho este referência da crítica, pela sua qualidade plástica inovadora, como uma das melhores peças de teatro do ano [Eugénia Vasques, Tito Lívio, Carlos Porto].
[ 1 9 8 5 ]: A convite de Egídio Álvaro integro, com António Areal, a escolha deste crítico para a “EXPO.AICA.85” (Associação Internacional dos Críticos de Arte) na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa.
Em Cogolin, França, e a convite de Julian Blaine, integro a representação portuguesa aos “Rencontres Internationales de Poesie Contemporaine”; e a representação portuguesa da 1. Bienal Internacional de Poesia Visual e Experimental no México.
Publicações nas revistas Lapiz, Madrid, na Doc(k)s, Paris, e na antologia “Poemografias, Perspectivas da Poesia Visual Portuguesa”, Organização de: Fernando Aguiar e Silvestre Pestana, Edição Ulmeiro, Lisboa.
Exposições de Poesia Visual, no âmbito de “Poemografias”, nas Galerias Diferença, Lisboa, e Galeria Nova, Torres Vedras.
Actividades performativas em “Perform’arte – 1 Encontro Nacional de Performance”, comissariado por Manoel Barbosa e Fernando Aguiar, Torres Vedras.
Com a obra “Intimidades” integro a mostra comissariada por Ernesto de Sousa “25 Artistas Portugueses de Hoje”, Museu de Arte Contemporânea, São Paulo.
Encerramento das Actividades do Artitude:01 e do Simposium “Projectos & Progestos”. [“Poesia Experimental Portuguesa, Anos 60 – Anos 80”, livro publicado pela Editora Angelus Novus, estudos no âmbito dos doutoramentos de Eunice Ribeiro e Carlos Mendes de Sousa, Universidade do Minho]
[ 1 9 8 6 ]: Com a obra “Algias, NostAlgias”, integro a Exposição Comemorativa dos 30 Anos da Fundação Calouste Gulbenkian, e com “Amant Alterna Camenae”, criada a partir de textos de Maria Gabriela Llansol, CAPC (Exposições Experimentais da Secretaria de Estado da Cultura).
Com Paula Massano, António Pinto Ribeiro e Carlos Zingaro, fiz a Direcção Plástica de “Procurando”, para a Bienal Universitária de Coimbra.
No ACARTE, Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, participei em “Perform’Art” (com Silvestre Pestana, Aldo Brizzi e J. Castro Caldas).
Ainda no mesmo ano surge “Murder in the Cathedral”, de T. S. Eliot, encenação de Paulo Filipe, obra onde assinei a Direcção Plástica, com apresentações no Convento de Santa Clara-a-Velha, Mosteiro da Serra do Pilar (Porto), e Castelo de Soure.
Direcção Plástica de “Lisboa, Nova Iorque, Lisboa”, no Conservatório de Lisboa, com Paula Massano, Margarida Bettencourt, Francisco Camacho, José Laginha, Filipa Pais, Carlos Zingaro e António Pinto Ribeiro. Venho a integrar nesta contextualidade, em Lisboa, o projecto CIM-Centro de Investigação e Movimento.
Em [ 1 9 8 7 ], sou convidado a integrar os corpos condutores de uma nova identidade para o Teatro Académico de Gil Vicente da Universidade de Coimbra. A identidade Visual, a Área Educativa e Documental, o Centro Expositivo para as Artes Visuais e a Edição Teatral de “O Grande Cerimonial”, de Fernando Arrabal, com Paulo Castro, Ivo Canelas, Adelaide João, foram alguns dos domínios de atividade que contribuí para as suas dinâmicas. Esta obra de Arrabal, onde assinei a Direcção Criativa, foi apresentado ainda no Centro Cultural de Belém em Lisboa.
A experienciação plástica para o domínio teatral continua com “Maüser” de Heiner Müller, apresentada na Casa das Artes, para o Teatro Experimental do Porto, [ 1 9 8 9 ]. Apresentação de Poesia Visual na Universidade de Bolonha, Facultà de Scienze Politich, Palazzo Hercolani, no âmbito da iniciativa “Concreta, Experimental, Visual, Poesia Portuguesa 1959-1989”.
O fim deste ano é marcado com o lançamento da Revista Via Latina, Forum de Confrontação de Ideias, edição comemorativa do centenário desta publicação da Academia de Coimbra, vocacionada, neste número temático, a estudar a “Portugalidade”. Assumi aqui a Direcção Artística da obra. [“Via Latina reúne algumas dezenas [de autores], dos mais diversos credos e proveniências, assegurando-lhe um saudável ecletismo que faz deste número comemorativo um empreendimento impressionante”, António Guerreiro, Semanário Expresso, Lisboa].
Ainda neste ano, o escultor Javachef Christo aceita, então, o meu desafio para arquitetar o projeto de revestir com uma tela dourada a Universidade de Coimbra. Atitude de dimensão internacional no domínio da Arte Contemporânea a resultar numa operação estética evocativa das Comemorações dos 700 Anos da Universidade de Coimbra [projecto não realizado].
Para o CAPC crio, então, o ciclo: “A Arte das Ideias, As Ideias da Arte”, onde venho a apresentar em Coimbra a obra de artistas como Pedro Cabrita Reis, com a peça inédita “Silêncio e Vertigem”; Rui Chafes, com “A Vocação do Medo”; e Leonel Moura, com “Amália”.
Esta actividade interlocutora, levando produção artística inédita de Coimbra para difusão nos centros de interesse internacionais e trazendo para esta ágora o fluxo cosmopolita da elegível criação internacional, convocava a partilha e a maturidade do lugar social – uma permuta de ideias e saberes transformando, nesta temporalidade, a cidade de Coimbra num lugar laboratório tributário de plurais tendências artísticas e culturas.
Como cidade universitária, a sua condição identitária mais (e)legível revela-se, nos anos oitenta, então como lugar de estudo e experienciação. Incubadora de valores vindouros, fez gerar uma constelação de autores de incontornável reconhecimento.
Hoje, com suficiente distância temporal das operações dinamizadas, é já possível formular (a sempre perigosa tarefa que é a que envolve) uma avaliação póstuma.
Sumariamente pode ser este alinhamento (convulsivo perante múltiplas circunstâncias vividas), um segmento de testemunho do que eu, naturalmente, possa ter vivenciado em Coimbra nos anos oitenta. Ouve, contudo, uma preocupação geradora sempre latente – que foi a de dar a Coimbra o devir de uma cidade de emergências múltiplas. De dar a Coimbra – Uma Outra Coimbra.
Em suma: testemunho, nesta “vadia conversa”, um alinhamento de segmentos do que formulei e vivenciei nos anos oitenta em Coimbra. Lugar onde convulsivamente, nesta década, levei e procurei trazer referentes. Uma doação ‘volumosa’ no desenho da memória desta geografia complexa que é a ibérico-melancólica Coimbra. Toda uma história que a ‘(in)diferença do lugar’ TEiMa(E) em não reCONHECER. Não conhecer o que os anos oitenta possam ter gerado, ou mesmo formulado, nos oportunos desafios de uma escolaridade singular cujo produto consequente já mereceu internacional reconhecimento na história do seu tempo.
3. Alguns textos testemunho, ou como começar uma (re)visitação:
A. “Projectos & Progestos”, in Esta Danada Caixa Preta só a murro é que funciona, livro Evocativo dos 50 Anos do Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra, Edição da Imprensa da Universidade de Coimbra, 2006.
B. Autor dos textos: “O Abandono do Ego, P&P e a Música Contemporânea – Elementos para uma leitura da Estética de John Cage”, Música em Si, #1, TAUC, Universidade de Coimbra; e “Piano, Piano se va Lontano – 12 reflexões sobre o piano numa perspectiva da música FLUXUS”, Revista Música em Si, #2/3, TAUC, Universidade de Coimbra.
C. Textos que assinei, editados na Rua Larga – Revista da Reitoria da Universidade de Coimbra, e que podem resultar contributivos de uma análise de conteúdos sobre as dinâmicas dos anos oitenta:
- “Um Voo em Círculo Antes da Morte” [RL#10, out. 2005, p12-15].
- “Intermitências da Arte Pública em Portugal” [RL#15, jan. 2007, p26-29].
- “Depois de A ‘Vocação do Medo’ – ‘Fui Tirado de Dentro de Mim’, peça artística de Rui Chafes para a Faculdade de Farmácia” [RL#24, abr. 2009, p28-32].
- “A Geração Black Cube” [RL#26, out. 2010, p30-35]
- “Uma Galeria no Planeta Book Covers” [RL#30, out. 2010, p53-55].
- “White Poem in a Black Wall”, [RL#33, nov. 2011, p65-67].
D. Revista Atlântida, 2011, “O Mago que nos fez (Vi)Ver a Música – Jorge Lima Barreto, 1949-2011”, Instituto Açoriano de Cultura.
E. Outras publicações editadas na moldura dos anos oitenta e anos consequentes, merecem também atenção como: Via Latina; Revista Fenda; Fenda Não Ela Mesma; Arte Opinião e Mundo da Arte.
F. Publicação do livro “John Cage, Música Fluxus e outros gestos da Música Aleatória em Jorge Lima Barreto”, Colecção Contaminações, Editora Alma Azul, Coimbra, 2013, com lançamento na Casa da Escrita por Emanuel Dimas de Melo Pimenta.