Secção 18 >
Intro(duction)
ARQUIVO É ANARQUIVO! [FortunAly]
Considerações prévias >
Rui Torres e Manuel Portela, na justificação da taxonomia do po-ex.net, definem poesia sonora como:
“Forma de poesia baseada na expressividade dos aspectos fonéticos da linguagem e dos processos vocais de emissão de som, alargando desse modo o conceito de poema ao de composição musical, normalmente associada a manifestações performativas e acções ao vivo, podendo no entanto ser formalizada quer pelo registo áudio, quer pela representação visual da partitura. (Também: Poesia fonética)”
Melo e Castro propõe uma tipologia das poesia experimentais em “A proposição 2.01” (1965), onde se incluem:
“Poesia Auditiva – Experiências com a voz humana tratada ou não com o magnetofone. Poesia rítmica ou poesia melódica com palavras, sílabas ou sons puros. Algumas experiências dadaístas e letristas. Composição direta na trilha sonora.”
“Poesia Respiratória – Experiência de Pierre Garnier com o sopro humano.”
“Poesia Sinestésica – Desenvolvimento das sinestesias. Produtos híbridos dos tipos de poesia já referidos.”
Em PO.EX (Hatherly; Castro, 1981: 115-116) inclui novas tipologias e exemplos, reformulando para:
“Poesia auditiva ou fonética: Experiências com a voz humana tratada ou não com o magnetofone. Palavras, sílabas, sons puros, ritmos, sobreposições. Desde o dadaísmo. Raoul Hausmann, Kurt Schwiters; Petrônio; Bernard Heidsieck; Henri Chopin; François Dufrêne.”
“Poesia respiratória – Experiências de Henri Chopin (A Energia do Sono) e de Pierre Garnier com o sopro humano (Poesia Fonética).”
Rui Torres, de “Porta-Voz [Recensão Crítica]”:
“O que é a poesia sonora? Poesia cantada? Poesia lida? Poesia musicada? São dos Futuristas e dos Dadaístas as mais marcantes propostas de autonomização estética dos aspectos sonoros da linguagem poética (Tzara, Marinetti, Ball, Schwitters). Tendo esta informação histórica em consideração, e aproveitando a fundamental teorização proposta por Philadelpho Menezes, podemos talvez referir que a poesia sonora possui dois momentos bem delineados. E o marcador de separação pode bem ser o advento da aparelhagem electracústica, à volta dos anos 1950: poesia fonética antes; poesia sonora depois (v. Menezes).
A poesia sonora é uma forma de poesia baseada na expressividade dos aspectos fonéticos da linguagem e dos processos vocais de emissão de som, alargando o conceito de poema ao de composição musical. Embora esteja, normalmente, associada a manifestações performativas e acções ao vivo, ela pode também ser formalizada quer pelo registo áudio, quer pela representação visual da partitura.
Philadelpho Menezes explica-nos que a poesia sonora é “um mito brilhante e mudo”. Brilhante porque reflecte “com precisão e radicalidade” aquilo que centraliza as múltiplas tendências das poéticas experimentais, tais como a elaboração fonética, vocal, acústica e electroacústica. Na sua própria amplitude, porém, diz Menezes, torna-se “um nome de significação esvanecida, quase mudo”.
Certo é que poesia sonora não é mera leitura de poemas. O que caracteriza o poema sonoro não é a sua simples audibilidade, mas a sua própria existência acústica. O som das palavras é para a poesia sonora um problema, não uma solução. O poema sonoro opõe-se, por isso, à oralidade padronizada do mundo contemporâneo. É uma poesia para abrir os ouvidos, tal como a poesia concreta quis ser uma poesia para abrir os olhos. Aquilo a que também Philadelpho Menezes apelidou de “utopia da transformação estética”.
Se nas referidas vanguardas históricas do Futurismo e do Dadaísmo podemos identificar uma função de subversão da ordem, isto é, a transgressão à norma, a intervenção na realidade, já no experimentalismo da segunda metade do século XX estamos perante “uma produção destituída desse élan transformador, centrada na experimentação pelo simples efeito acústico sugerido pelas inovações tecnológicas”, como disse Menezes.”
Textos sobre Poesia Sonora no po-ex.net:
Textos sobre SOUNDS no ubu.com (ligações externas):
- Henri Chopin — “Why I Am The Author Of Sound Poetry …”Bob Cobbing — “Statements on Sound Poetry”
- Kevin Concannon — “Cut + Paste: Collage and the Art of Sound”
- Suzanne Delehanty — “Soundings”
- Craig Douglas Dworkin — “Unheard Music”
- Lucy Fischer — “Sound Waves”
- Bettina Funcke — “Robert Whitman’s Telecommunication Projects”
- Michael Gibb — “Sound Poetry: A Discography”
- Dick Higgins — “A Taxonomy of Sound Poetry”
- Daniele Lombardi — “Futurism and Musical Notes”
- Steve McCaffery — “Sound Poetry: A Survey”
- Enzo Minarelli — Manifesto of Polypoetry
- Robert P. Morgan — “A New Musical Reality”: Futurism, Modernism, + “The Art of Noises”
- Nancy Perloff — “… Postmodernism and the Music of John Cage”
- Ron Rice — “A Brief history of Anti-Records and Conceptual Records”
- Luigi Russolo — The Art of Noises (1913)
- Torben Sangild — The Aesthetics of Noise
- Pierre Schaeffer — Solfège de l’objet Sonore (1966) [PDF]
Esta sessão sobre processos sonoros e poesia sonora apresenta dezoito (18) secções distintas, com autonomia, não devendo por isso seguir a ordem aqui estabelecida, mas antes seguir uma sequência aleatória, gerada pelo FortunAly, programado pelo Nuno F. Ferreira para a Retroescavadora. Gere a sua própria sequência aqui: https://po-ex.net/anarquivo/textosom/. As 18 Secções (cada letra de ” A-R-Q-U-I-V-O-É-A-N-A-R-Q-U-I-V-O-! “) têm a mesma estrutura: Som-Texto (Poema sonoro); Texto-Som (Leitura); Genealogia/derivação (História); Processo/manipulação (Kyma).
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