Frame_Ainda

F r a m e _Ainda, por António Barros. Momentos do Livro de Bordo na construção de “Frame” (2003), Coimbra/Funchal. [Texto. Ligações]


A iconografia da obra “Frame” revela, na sua esculturalidade, uma narrativa que convoca a palavra. A palavra imagem diz-se aqui numa forma outra, modo onde o lago da montanha, antes narrada na Mesa de Zeus [em “Alma”], transita para uma outra condição semântica traduzida agora pelo mar de Posídon, esse mar que recebe a água da nascente ofertada por Asopo a Corinto premiando o “sacrifício” de Sísifo.

O lago – em forma de naveta, aura vaginal – traz a condição de nave. Mas uma nave funerária. Barco tumular.

A montanha ornamenta o mar no jogo plano [frame]. Desenha a navegação. É insular. Um vaso de luz [barco navegante da Baía d’ Abra a Porto Santo], transporta matérias translúcidas [sacrifício convulsivo], numa estática viagem cercada pela moldura [frame], em forma de prece.

Neste jogo envolvente dos desígnios da produção do objecto, da ‘instalação’, em “Frame”, e para conquistar novas formas de entendimento, como a acústica e sua razão sonora, é tempo de escutar o vagar de uma musicalidade exorcizante [a composição “Porto Santo” de Carlos Paredes na sua Guitarra Portuguesa quando enuncia “Despertar”].

Outro referente que a construção do objecto convoca é o ritual funesto [a obra “Dead Man” de Jim Jarmusch]. Esta peça [escrita por Jarmusch], é a história da viagem física e espiritual de um jovem num território que lhe é particularmente estranho. William Blake, personagem poema em “Dead Man”, viaja para as mais longínquas fronteiras do oeste americano, algures na segunda metade do século XIX. Perdido, e gravemente ferido, encontra um nativo americano, um pouco estranho e rebelde, chamado “Ninguém” que acredita que Blake é na realidade o poeta inglês, já morto, com o mesmo nome. Mas em “Frame”, o ninguém interior revela-se. Procura sentido. Busca a palavra e a razão. Procura uma transcendência de si.


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