Exposição com obras do Arquivo Fernando Aguiar. [Cartaz. Apresentação]
Inauguração no dia 14 de Setembro pelas 20h00. Museo Vostell Malpartida: Carretera de Los Barruecos, s/n, 10910 Malpartida de Cáceres (Cáceres), Espanha. Patente de Setembro 2021 a Fevereiro 2022.
Texto de Fernando Aguiar:
DESENHAR É FALAR COM O SILÊNCIO é a primeira exposição individual de Ana Hatherly em Espanha (e a terceira fora de Portugal, depois das exposições no Centre Culturel Calouste Gulbenkian, em Paris, 2005, e no Museo de las Artes de la Universidad de Guadalajara, no México, 2019), e apresenta um conjunto de obras representativo dos diferentes percursos estéticos da autora, cuja produção é experimentalmente ousada e transgressora, sobretudo a realizada antes de 1974, durante o período da ditadura em Portugal.
Estão patentes desenhos, caligrafias, colagens e pinturas sobre papel e tela, de diferentes décadas, incluindo 3 colagens inconclusas que remetem para a série “As Ruas de Lisboa”, e que se podem considerar como um “work in progress”. Inclui caligrafias com conotações poéticas que constituem, porventura, a faceta mais conhecida da sua obra plástica, passando pelos anos 90 com uma renovada expressividade pictórica e onde a força do cromatismo é mais evidente, até aos anos 2000, sobretudo a sua última fase, com um conjunto de obras denominado genericamente de “Neograffitis”, dos quais temos alguns objetos em vidro acrílico e um conjunto de serigrafias que configuram uma pequena instalação.
São apresentadas ainda duas obras realizadas em vidro acrílico, intituladas “Floresta de Outono” e “Floresta de Inverno” (2017), a partir de um projeto de 1957.
Outro trabalho executado a partir de um original de Ana Hatherly, é a pintura sobre tela, que reproduz em grande formato um desenho de pequenas dimensões (12,4×17,9 cm), de 1996/1997, da série “Viagem à Índia” que é igualmente exposto, formando um conjunto indivisível, e que revela as imensas potencialidades de muitas criações da autora quando projetadas em grande escala, salientando pormenores que muitas vezes acabam por passar despercebidos.
O “Poema 1” (1959-64), publicado no livro “Um Calculador de Improbabilidades” (2001), é agora reproduzido numa tela plástica de grandes dimensões, e é apresentada toda a série de visuais que constituem o livro “Volúpsia” (1994), assim como os poemas que os acompanham. E ainda dois desenhos da série “Alfabeto Estrutural”, realizados nos anos 60, que são expostos pela primeira vez.
Ana Hatherly realizou algumas intervenções, a mais significativa das quais foi a performance “Rotura” (Galeria Quadrum, Lisboa, 1977), revelando a diversidade de expressões formais, técnicas e de suportes que utilizou ao longo de mais de 40 anos de atividade.
Gostava de trabalhar por séries, explorando as possibilidades que cada uma lhe proporcionava e, nesse sentido, poder-se-á considerar que cada obra exposta representa um indício para a descoberta de um conjunto de trabalhos que essa obra invoca. Embora uma parte substancial da sua produção visual esteja diretamente ligada à palavra e aos signos gráficos, realizou pinturas onde as cores e as tonalidades se revelam como um fator de exploração primordial, de que a série “Viagem à Índia e outros percursos”, apresentada no Museu do Chiado, em Lisboa (1997), é um exemplo.
Não existindo uma unidade formal ou estilística nesta retrospectiva procurou-se, através da diversidade das obras, exemplificar uma inquietação própria da inventividade da autora, que optou por uma intransigente liberdade expressiva e uma libertadora irreverência criativa, deixando a imaginação invadir os suportes, normalmente simples, onde executava as suas obras, e cuja linha e procedimento se situava numa fronteira de indefinição entre a escrita e a visualidade, elegendo espaços de provocação e de experimentação, uma das características enquanto precursora da poesia experimental em Portugal e também enquanto reconhecida artista plástica.
PDF do desdobrável disponível aqui > https://po-ex.net/pdfs/ExpoDibujar-es-hablar.pdf