Ensaio de Pedro Barbosa propondo uma homologia entre o modelo quântico e a teoria do texto. [pdf]
In > Cibertextualidades, 1. Ed. UFP, pp. 11-42.
Da Introdução > A teoria quântica, originariamente concebida como teoria física para ser aplicada à estrutura íntima da matéria e às propriedades paradoxais das micropartículas (electrões, protões, átomos, moléculas), encerra pressupostos filosóficos que abrem uma nova maneira de pensar a realidade. Sabemos o risco que comporta a extrapolação, tantas vezes fantasiosa, desta teoria para outros níveis de organização do real. No entanto, Lothar Schäfer (químico quântico) é peremptório em afirmar que não é só no campo da microfísica que tais propriedades se manifestam: “As moléculas são a base da vida e as moléculas são sistemas quânticos. Todas as coisas, pequenas ou grandes, existem em estados quânticos.” E o matemático Roger Penrose corrobora: “A mecânica quântica está omnipresente mesmo na vida quotidiana, e encontra-se no cerne de muitas áreas de alta tecnologia, incluindo os computadores electrónicos.” Longe a pretensão de invadir um domínio que não é o da nossa competência – são os pressupostos epistemológicos desta teoria que aqui nos importam, não a sua operacionalidade científica. Por isso não levaremos a nossa ousadia muito para além do direito de citar, propondo uma homologia entre o modelo quântico e a teoria do texto, homologia cuja aplicabilidade ao texto gerado por computador se nos afigura particularmente rica de potencialidades. As textualidades inauguradas com o advento da informática, caso do texto virtual, do texto automático, do texto generativo ou do hipertexto, requerem uma correspondente forma outra de encarar o texto e a construção do sentido. Ora os pressupostos basilares do pensamento quântico revelam-se expressivamente operatórios para esta nova teorização do texto.
Ligação permanente > https://www.po-ex.net/pdfs/barbosa.pdf
Também publicado (versão reformulada) in > Revista de Estudos Literários. Literatura no século XXI, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Número 2, pp. 121-184, 2012. ISSN 2182-1526. <http://impactum-journals.uc.pt/rel/issue/view/121>
Resumo > Alguns pressupostos epistemológicos da teoria quântica na sua abordagem do mundo natural (virtualidade/actualidade, interacção observador/observado, imprevisibilidade e causalidade estatística, dualidade unitária das partículas, noção de informação, etc.) aproximam-se surpreendentemente das propriedades manifestas pelas novas textualidades digitais, nascidas com a era do computador, e aqui designadas genericamente como “cibertexto”. É propósito deste artigo ensaiar uma aproximação entre o modelo quântico e o modelo semiótico, não tanto para revelar uma simples homologia, mas antes para sugerir uma visão unitária subjacente à abordagem dos vários níveis de realidade (matérica, biológica, mental, cultural e espiritual). Essa aproximação entre a visão quântica da matéria e o cibertexto centraliza-se terminalmente na unificação triádica dos conceitos matéria/energia/informação com os conceitos fulcrais do triângulo semiótico significante/significado/sentido (ou, no domínio da estética, TAC: tecnologia/arte/consciência).
Tb publicado na revista Texto Digital, v. 5, n. 2 (2009) > http://dx.doi.org/10.5007/1807-9288.2009v5n2p206