Motivações, práticas e reflexões .txt

Texto de Fernando Nabais sobre o processo de criação da peça “.txt” – media performance, tecnologia interactiva, conteúdo e propósito dramatúrgico. [Texto]


Onde começa a criação de um objecto de arte tecnológica? Como decorre esse processo entre duas formas de conceber e criar aparentemente tão divergentes? Num cruzamento inevitável da arte com a tecnologia, o processo criativo fundiu desde o seu início, a intenção da plasticidade e formalização, com a tecnologia que a suportaria.

O processo de criação da peça “.txt” foi entendido, desde o seu inicio, como de exploração dos media performance e tecnologia interactiva mas sempre procurando a integração, ou servindo, um conteúdo e propósito dramatúrgico.

Esta intenção só poderia materializar-se através de uma equipa multi-disciplinar, congregando saberes complementares, com uma articulação flexível e mutuamente inspiradora. A criação de inovações tecnológicas mais profundas e a sua integração no universo da criação artística é, cada vez mais, responsabilidade de equipas multi-disciplinares às quais é, de inteira justiça, estender o epíteto de artista colectivo.

A criação da performance digital interactiva “.txt, foi similarmente resultado da sensibilidade artística dos engenheiros e da tecnicidade dos artistas.

Integrando um conjunto de meios que já criaram muitos paradigmas e códigos próprios, a sua remediação e recontextualização marcaram também a estratégia criativa da peça “.txt”. Se o texto é o elemento central da peça, a simulação visual e sonora a sua formalização, a interactividade é o elemento condutor que se procura também explorar, reflectindo abordagens que se pretendem inovadoras.

Ancorado numa clara intenção de integrar eficazmente toda o potencial comunicacional da performance digital interactiva mas, também de a questionar, colocaram-se várias questões ao longo do processo criativo que resultaram da própria prática criativa mas também de uma investigação que procurou traçar-lhe o percurso histórico, as motivações e as práticas.

Interactividade no contexto performativo

É normal que um encenador tradicional não encontre nas possibilidades interactivas de detecção e consequente activação de eventos reactivos uma grande vantagem para além do que já resolve com uma equipa técnica competente e atenta. É, também natural, que a utilização de interactividade nesses mesmos contextos seja para o público, pouco mais do que um espectáculo bem encenado do ponto de vista de rigor técnico. Como integrar do ponto de vista da narrativa, dramaturgia, encenação e movimento do(s) performer(s) essa tão especifica categoria da interactividade, em tempo real ou não, tornando-a óbvia e natural ao espectador?

O espectador passivo mas consciente da interactividade com o(s) performer(s)

Que estratégias adoptar no sentido da utilização da interacção enquanto elemento intrínseco ao meio? A convocação e a remediação de outras obras e princípios de interactividade, mesmo recontextualizadas, facilitam a percepção dos mesmos, apesar de resultantes da interactividade alheia. Para além da convocação da literacia digital do espectador, reconhecendo como interactivos os dispositivos envolvidos na detecção e simulação ao longo da peça, reportando-os também à sua própria experiência com o universo digital, algumas abordagens experimentais e conceptuais foram sendo desenvolvidas.

O espectador enquanto performer da peça

A integração de conteúdos, criados e submetidos pelos espectadores, no próprio conteúdo plástico da peça, permitindo ao performer a interacção com os mesmos, é também uma procura de reforço da percepção da interactividade, assim como um conscientemente assumido recurso narrativo.

A interface enquanto conteúdo

A detecção não intrusiva do performer e da performance através da visão por computador, os algoritmos de interpretação gestual e a capacidade de simulação das reacções por descritores comportamentais, estendem o conceito de palco responsivo a um ambiente que quase se poderia considerar vivo e no qual o performer é apenas uma das componentes.

Exploding the frame

O que há para lá do rectângulo da projecção de vídeo? Como se integram elementos cenográficos reais enquanto elementos estruturais da interactividade e da simulação?

Foi na procura de novas soluções cenográficas, na sua complementaridade ao nível imagético e narrativo mas, também interactivo, que o desenho do espaço cénico e de adereços se desenrolou.

É, pois, neste conceito integrado de utilização e questionamento dos media performance e tecnologia interactiva, que se forma a peça “.txt”, forjada na intenção de exploração destes media e no encontro quase que pré-destinado ente as artes performativas e as artes interactivas, que procura compreender na sua quase inevitabilidade histórica, artística e tecnológica.


Ligação para texto original > http://txtwork.wordpress.com/textos/


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