Texto de António Barros sobre a sua obra Enamoramento_mente_on line. [Texto. Ligações]
Ao partirmos do ensinamento de André Gide, quando nos diz que “o mundo só poderá ser salvo, caso o possa ser, pelos insubmissos”, logo encontramos, de perfil assertivo nessa sintonia, um manifesto singular. E surge esse acto social, agora na sua segunda edição, como: INSUBMISSOS 2018, empática plataforma sintonizadora, também, de “Enamoramento_mente_on line“, de António Barros, Fortaleza do Pico, Funchal, 25-27 outubro 2018.
O que é pretendido na operação artística, em modo de artitude: “Enamoramento…”, simulacro operativo fazendo-se sustentar numa enunciação do phubbing, é o sarcasmo de fazer denunciar-se o presente objecto, como exemplo das falências da comunicação que rejeita a fisicalidade presencial no espaço da família. Lugar onde a partilha passa a ser feita apenas com o equipamento electrónico. Toda uma vulgarização impune da mentira [a mente (em) _ira] no espaço da casa. A sociedade euística, onde o mergulho na solidão já não se diferencia em gerações, ou géneros, mas é, em si, coisa real.
Entenda-se o phubbing (1) como o convulsivo acto de alienar-se com o telemóvel ignorando as pessoas que estão à nossa volta. Todo um gesto que resulta em alienação sustentada, como anulação da personalidade individual, resolvendo-se numa fuga à realidade social.
O euísmo, aqui explorado como matéria a merecer continuada atenção, convoca, numa convulsiva triangulação, as sinergias de outras duas obras do mesmo autor: “J’Existe” (contemporâneamente apresentado em: Poesias Performativas_Performative Poetry – Teorias e Práticas. Perspectivas Comparadas, Centro de Estudos Comparatistas, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 29 de outubro de 2018″; obra antes apresentada no MUDAS_Museu, 2017-2018; e no ciclo “Performance Agora”, Centro de Dramaturgia Contemporânea, Teatro Académico de Gil Vicente, Universidade de Coimbra, em “Artitude:01, razão para Projectos & Progestos”); e “Diálogos” (MUDAS_Museu, “Alvoro”, 2017-2018, com anterior estágio em: “Dos modos nascem coisas”, 2017,Teatro Alba) (2) .
São peças que exploram as falências da comunicação hoje, e as ferramentas com que a cega afirmação do eu procura recorrer, comprometendo, assim, diferentes performatividades. Nesse limbo encontramos, para reflexão, experienciações diversas resolvidas em forma de aulas públicas (3) , esse lugar onde o artor se insinua, e para além das suas próprias pro_vocações, resolve-se numa desconstrução que cruza com as balizas de uma comunicação viral.
O sarcasmo convulsivo gerado na instalação “Ena…”, programa, à mesa, uma refeição onde o smartphone é substituído pela tradicional bolacha Maria.
Desengane-se quem julgar que esta tão familiar merenda de nome Maria, é fruto da receita da avó. Na verdade foi criada por dois cozinheiros ingleses e, segundo atestam vários especialistas, este derivado da farinha de trigo é um patogénico alimento bem nocivo.
Para uma dinâmica da operação “Ena…” foram desafiados ainda três outros autores a trabalharem a causa tema, comungadamente (em África, na geografia ausente entre Argélia e as ilhas atlânticas), procurando gerar estes um texto gregário mapeador de uma teatralização, ou comportamento performativo, modo sempre suportado pelo contexto cénico aqui enunciado pelo desenho no lugar. O texto a gerar, gerando-se, gerativo, degenerativo, nutre a característica de ser infindável e intangível, apresentando-se como tarefa aberta – como progesto. Como Arte Acção – desígnio avulso de um questionamento constante.
Phubbing é um conceito criado (2012-2013) por Alex Haig, um jovem estudante universitário australiano, e resulta das palavras phone e snubbing. Alex pretendeu responder ao desafio de uma campanha organizada pela Mc Cann Melbourne, para a Macquarie Dictionary, mas não se restou pelo conceito ganho, vindo a contribuir ainda para a criação de um movimento de questionamento do comportamento alienatório, manifesto que ficou conhecido por: Stop Phubbing.
“Diálogos“, peça inscrita no programa expositivo do projeto da Unidade de Interpretação Museológica para as Telecomunicações, Funchal, 2018.
Aulas públicas experienciadas, foram testadas como modelos práticos de artitudes numa operacionalização de uma Arte da Acção:
A. “Basalto, uma arma de fogo – Artitude [em modo Aula Pública] de António Barros” – Apresentação retrospetiva, testemunho e um convite à [re]vivenciação de uma experiência performativa da autoria de António Barros, por Augusta Villalobos Nascimento in: Translocal: Culturas Contemporâneas Locais e Urbanas, n’3 (abr. | set.2018), Espaços Performativos | Performing Spaces. ISSN 2184-1519. <http://translocal.cm-funchal.pt/2018/03/29/revista01-3-2/>, edição da UMA_Universidade da Madeira. Uma componente integrante da obra inscreve a exposição “Poesia Experimental Portuguesa”, Caixa Cultural, Brasília, 2018.
B.”Do outro sagrado“- A comunicação viral a partir de “Eu tenho uma mãe”, de BahareH BisheH, para alunos de Imagem e Comunicação numa Artitude de António Barros. Edifício das Caldeiras, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 26 de maio de 2017.
C. “Aula Vaga“, 1.000.051 Aniversário da Arte, CAPC – Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, Universidade de Coimbra, 17 de janeiro de 2014, Coimbra. https://po-ex.net/taxonomia/transtextualidades/metatextualidades-autografas/antonio-barros-de-os-aneis-e-os-dedos-a-aula-vaga/