Texto de António Barros sobre ‘Artista Con_viDA_DO’: A Palavra Na rUA, para Se vão da Lei- Operação Cidade_Livro, Leituras do Lugar – Sons da Cidade. [Texto]
Em: “Se o graffiti alterasse alguma coisa, seria ilegal” – Arte em Investigação, Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra, Edifício das Caldeiras, 25 maio 2016.
Como nos enunciou Umberto Eco, o espetáculo pode ser uma “obra aberta”, e é nesta consciência do tanto infindável que a Arte convoca, que nos surge a consciência do Palco como lugar vital e de consciência(s). Viral.
O Palco pode ser a Rua. A própria malha estrutural da Cidade, mas é fundamentalmente um Lugar onde se Habita. E aqui há um propósito de Realização inerente. Mas convulso. Escavado num desenho de penumbra. Tons de cinza.
Realizar, Realizando-se, procura tantas vezes o Palco como condição sinergisadora, mas, e não menos, como catarse e território da Afirmação para o Reconhecimento. Uma catarse que pode resultar vestida pela Máscara. E onde a Máscara resulta como própria Persona.
Todos procuram o Palco. O seu Palco, mas um Palco que seja Seu. E aqui estamos na busca feroz de Condição, mas também, e mormente, na afirmação indelével de uma gramática de desígnios de, e para a Identidade.
Na pobreza de meios, de meios de Palco, recorre-se ao Lugar. Ao Lugar da vivenciação, comprometida, onde a Rua e a Cidade, involuntariamente, se disponibilizam – ou são a tanto condenadas (artes da/na Rua), mas também, até, ao próprio Lugar do Corpo; no Corpo e sua Condição (artes da/na Performance).
Na conjugação – Lugar Rua, versus Lugar Corpo, confrontamo-nos com uma realidade que não é nova. Resgatamos assim, e numa mórbida inconsciência feroz (mas involuntariamente) um Lugar da, e para a Crucificação.
Aqui, e de novo neste Palco, temos Arena. Toda uma Arena de degladiação e não Ágora. E é a Ágora quem se ansiava re_vitalizar fazendo conjugar o Verbo, e o Sentido.
Vivemos na prolixa efevrescência do Dizer mudo. Mudo Dizer. Mas de um dizer (já) cansado do dizer líquido (Bauman). Urge um Dizer que se enuncie para além da condição refém da sua sintaxe.
Um Dizer aFogante. Que seja Fogo e formule Chama. Que se contra_diga. Seja a Chama que chama.
E aí a Rua surge a Palco, como Palco para deixar-se incendiar. Nessa Chama. Nesse Falso Fo(l)go.
A Rua é vítima desta constelação de autofagias solitárias perdidas na sua própria anulação de Si. Vagas. Em Dor. Nestas suas AutofAlgias. Coloridas. O Palco, de novo Arena, é um Palco que quer ser Ágora para ser Ser. Mas cego, procura-se numa falência de Engenho e Força. Procura Sentido. Sentido de Identidade.
A vergonha de Si, da sua própria Condição, foi vezes tantas o motor da Revolta. A Revolta com Sentido. Com esse Sentido (de Si). E aí a Realização se fez Afirmar e Construir (almejando uma genuína Revolução de Si). Mas a Revolta sem Arquitetura do seu Sentido morde o Abismo do Vazio. Do Palco Vazio.
O Pânico do Palco Vazio é um novo obstáculo agora gerado. Bandeira. E o Pânico do Vazio deSi passa a ser toda a razão sinergisante do gesto performativo. Do Gesto em devir – do Progesto.
A palavra Na rUA exalta timidamente a timidez tímida do fazer assumir a Revolta. E porque a Revolta perdeu a lucidez do seu Alvo. Alvo diluído na sua Identidade líquida.
E o Alvo resulta em si apenas no Palco como Palco. No Palco de Si. No Palco Vazio de Si. Sem Sentido. De magra Identidade. Volátil mesmo. Todo um estar onde o Palco basta. O Palco e a sua métrica. E (e)molduração.
O Palco – Arena pálida – onde o espetáculo regressa como Sociedade de Espetáculo (Debord), mas teimosamente colorido pela toxicidade logotípica da Marca e do Mercado (Klein), do desgaste e do abUso de quem consome, se consome, e no conSumo abUSA em Si. Toda essa velocidade.
É este, também, o cenário do Palco. De um Palco sem Palavras. Sem Palavras nuas. Novas. Sem Volta. Onde a ReVolta se deixou adormecer enVolta numa adulação de Si. Preso no Palco. Palco espelho de Si. Nessa elástica Idade de Espelho (Lacan). Recidivante. No Palco deSi. Apenas. Apenas o Palco.
V(l)er tb >