Texto de António Barros sobre a obra ‘A_A – Transmutações da Alma #3’. Diário de Bordo, Casa da Escrita, “Coimbra (t)em Poesia”. [Texto. Ligação]
Por vezes há palavras convulsas. Como peixes a quererem saltar para fora do lago na ilusão que fora dali terão melhor sorte. Como algas na subida das marés acabando condenadas a secarem ao sol. Por isso temos necessidade de as dizer. Toda uma ânsia de dizer. Palavras.
Há palavras que surgem em verbo. Que se educam no verbo. São um verbo. E educar é um deles. Transitivo ele resulta convulso. Educar é um verbo convulsivo. Traz essa condição aristotélica, quando este nos diz que somos aquilo que fazemos repetidamente. O ser convulso.
Ser é dizer. E dizer repetidamente. Educar é ser repetidamente. Até à exaustão sem nunca poder ser exausto. E é essa fronteira limite o abismo entre o desastre e a sabedoria.
Educar é a navegação nesse fio de navalha. O perigo.
EducAção é uma EducArte. Uma Arte perigosa, por isso todo o seu vulto de fascínio. Vulto de um corpo mutável. Mutante. Que tantas vezes nem existe. Porque é já em si a própria existência. Existência de conceito.
Educar é traballhar o conceito trancendendo-o. É o querer saltar para fora do próprio conceito. Nessa ilusão de redescobrir o sentido que quer ganhar novo sentido. Como o peixe que, na ilusão, quer saltar fora do lago.
Educar é ser peixe voador.
Ser um ser de voo recidivante, entre o salto e o mergulho. Entre a luta e o sossego. Entre a guerra e o “repouso do guerreiro”. Todo esse abismo. Vivo esses AB_ismos. Busco uma “Transmutação da Alma”. Constante.
Também publicado na REVISTA TRIPLOV de Artes, Religiões e Ciências, número 63, Março-Abril 2017.
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