Texto de António Barros sobre o seu obgesto “Com Pés de Vegécio” – Epitoma rei militaris. [Texto. Ligações]
Vegécio • Culto do não perdão
Um dos princípios de cultura ‘disciplinar’ romana enunciada pelo Varão Ilustre e Conde Flávio Vegécio Renato, no Compêndio da Arte Militar, foi o culto do não perdão [como valor]. Diríamos hoje: a assertividade do definitivo – a “Tarefa Fechada”. A condição dogmática de – um obrigatório ‘não retorno’.
Refere Vegécio que: “na verdade, em todo o tipo de combate, não é tanto a multidão e a coragem sem instrução que costumam dar a vitória, mas a arte e o treino”.
Assim a “Instrução”, como ‘disciplina modeladora’, ocupa aqui uma dimensão diferente do que é, ou pode ser, hoje a Educação, e mesmo a Formação, levando-nos a questionar a performatividade destas diferentes tipologias [Instrução; Educação; Formação] construídas para a arquitetura do ser para o sucesso [seu e social] – esse devir do “dar a vitória”.
O “treino” do comportamento [militar] era o exercício promotor e vital, afirmando mesmo Vegécio, que o termo ‘exercitum’ provém de ‘exercitium’ (João Gouveia Monteiro).
Disciplinar hoje, eleger esse exercício, convoca promover o paradigma da resolução/realização conduzida para que a tarefa resulte sempre “Tarefa Fechada” com uma determinação musculada. E é aqui que a ‘contemplação’ se questiona em si própria.
No trabalho de arte (onde flui a ‘contemplação’) reside toda essa nevralgia – como pesquisa e como procura. É este, o objeto de arte, um objeto de comunicação, um questionador contaminante e galvânico procurando processos para uma também “instrução”, mas para um imaginário convulsivo entre a vital disciplina e a soltura. Uma pretensa busca de ‘gramaticalidade’ para a paixão que, neste cosmos, “sem perdão”, tanto cruza e denuncia com as narrativas do Epitoma.
A esculturalidade da peça “Com Pés de Vegécio”, presume gerar esse questionamento. Busca o seu desenho. Ainda.
Ver tb >
Ler tb >
- Caminho e penso, por E. M. de Melo e Castro