Excertos de imprensa [Itinerário do Sal]

Excertos de textos de Jorge Listopad, Asta Andrikonyte, Jelena Novak, Andrew Johnstone, Manuel Portela, Von Oliver Cech e Bertrand Dubedout sobre ‘Itinerário do Sal’ de Miguel Azguime. [Textos. Ligação]

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Trata-se de um espectáculo admirável e sedutor, algures xamanista, louco, entre o sal, o sol e o sul… Colocado sob as luzes da ribalta, os destinatários privilegiados, agradecem. (Jorge Listopad, Jornal de Letras, 22/04/2008)


O autor actor e músico Miguel Azguime, funde modelações vocais, mímica, gestos e as suas “projecções” no vídeo e electrónica ao vivo. As possibilidades do autor nesta produção histérica e fisiológica espantam, tornando-se um excelente “material” para as transformações electrónicas. (Asta Andrikonyte, 2006)


Depois desta experiência, talvez o espectador se pergunte sobre o seu género: será música electroacústica? Poesia sonora? Teatro musical, arte performativa, ópera multimédia? Ou será antes todas estas hipóteses juntas? (…) Ultrapassar barreiras de grandes disciplinas estabelecidas é uma das características marcantes da poética de Azguime. É ele o autor dos versos, recita-os e interpreta a música composta de proliferações rítmicas de sons, palavras e gestos. (…) Parece teatro, mas não é. (Jelena Novak, e-volucija, nº14, 2007)


Durante uma hora Miguel Azguime apresenta-nos uma mistura de vídeo e sons vocais processados, acrescentando uma camada de picante imprevisibilidade a um esquema de eventos sensoriais variados, detalhadamente planeados e de conteúdo convincente. (…) A electrónica ao vivo é conduzida com graça quase dançante. Ao centro de tudo isto, e magistralmente imergido, está o próprio Azguime. De olhar arregalado para a câmara, rabisca sobre uma mesa, transfigurado num desenho animado, trajado de um branco reflector face à câmara, é ele o objecto projectado e a tela de projecção. (…) Nesta ópera multimédia, (…), a tecnologia e a linguagem são brinquedos de igual e infinito fascínio. (Andrew Johnstone, Review on The Irish Times, 28/04/2007)


Itinerário do Sal, de Miguel Azguime, é um exemplo da hibridez intermédia tornada possível pela actual tecnologia digital. Os sons ligeiramente diferidos que saem da boca do actor/autor tentam ser simultaneamente o resultado dos movimentos corporais, isto é, aquilo que poderíamos referir como a música da voz ou a poesia da voz, e a notação desses movimentos. É como se o som escrevesse o próprio som. O mesmo se poderia dizer da escrita: os traços traçam a sua própria possibilidade enquanto forma escrita. (Manuel Portela – blog TAGV Coimbra, 16/02/2007)


Na sua essência, a linguagem não faz sentido. Ela não é mais do que uma sucessão de sons, tão natural como o barulho do vento no trigo ou o crepitar dos grãos numa montanha de sal. É com uma coerência fora do comum que o Miso Ensemble segue este princípio na sua ópera multimédia “Itinerário do Sal”. É inimaginável um prelúdio mais prometedor do que este para o festival Europa em Cena, o encontro de teatro luso-alemão da Studiobühne. (…) Através de uma performance genial, Azguime eleva a sua arte para um outro patamar totalmente diferente. Aqui tudo se torna Arte da “prestidigitação. Movimentando os lábios de forma artística, o actor solta frases sobre o “autor ausente” (que comicamente se encontra no palco) em cascatas de som. Não se pode dizer que este autor esteja “no meio do silêncio”, no “contexto de estar calado”; ele cacareja e ronrona, ele parte com os dentes e ladra até romper a própria palavra até que ela se dissolve em prazer, mas também em terror. O abismo da loucura torna-se visível por detrás do vazio transparente das palavras. (…) Azguime oferece Jandl sob ecstasy, em transe digital da velocidade. Com cabos ligados por todo o corpo, apoiado por três técnicos, ele torna visíveis as suas ruínas de palavras em tempo real, e passa-as na forma de letras chamejantes e flutuantes num ecrã gigante. Só o brilhantismo da técnica, a perfeição e a originalidade dos desabamentos ópticos e acústicos já fazem desta representação de uma hora um espectáculo a ver. (Von Oliver Cech – Kolner Stadt-Anzeiger, 12/03/2007 – Tradução do alemão Beatriz Medeiros da Silva)


Aliando uma presença cénica de rara intensidade a uma incrível virtuosidade no tratamento electrónico das imagens e dos sons, Miguel Azguime absorve-nos para o interior de um turbilhão de imaginação infatigável, para o labirinto de uma invenção de cada instante: grandes planos do sentido, de palavras, de sons, de gestos, de situações, de posturas. Difundido a partir de um dispositivo que circunda o público, o som toma conta do espaço, enquanto que a imagem projectada sobre múltiplos ecrãs se torna volume e território. Em palco, Miguel Azguime conduz o público a um ritmo alucinante, num acto de loucura, de espanto, de emoção. (Bertrand Dubedout 04/04/2006 Festival Mira)


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