Obgesto de António Barros. [Textos. Imagens]
InFinito _In [dentro] Finito [do finito] projecto multidisciplinar, Curadoria: Inês Costa Neves; Produção: Nuno Barcelos; Quinta Magnólia_Centro Cultural, 20-22 outubro; Torre do Capitão_Centro Cultural, novembro, 2022, Funchal, Edição:0 [lançamento]. Apresenta: Para um vacuus retrato de dEUS _um obgesto, poema visual, de António Barros, 2022, compósita com contributo performativo de António Dantas, toda uma Arte da Acção.
Para um vacuus retrato de dEUS
Na convulsão da consciência do finito_infinto logo nos encontramos perante a finitude do discurso veiculador, e aí temos Churchill (d)enunciando que “um bom discurso deve ser como um vestido de mulher; Longo o suficiente para encobrir o assunto e curto bastante para manter o interesse.”
Aí as rugas do rosto — pregas, as do plissado do vestido — chegando como um agrupamento de palavras, linhas paralelas do caderno de texto que se oculta atrás do devir da poesia. Lugar onde o texto da Ver_dade sempre se esconde auSente.
Disse o professor entre duas linhas, logo na primeira aula de Medicina das doenças infecciosas, que as mulheres portadoras de sífilis eram obrigadas a vestir saia amarela [saia (do) amar_ela], e tanto, dado o risco de finitude.
Duas linhas paralelas nem no infinito se encontram — espelham-se retra(c)to de dEUS. Esse medo e fascínio em ver-se no fantasmático espelho de Lacan. Essa magia que o deVer (d)a arte almeja, entre duas linhas.
Ao deixar [a] ment(e)ir há: um símbolo de infinito à cintura, umbilical, coroa em ramo de plátano; um vidro falante, vaso de sede na garrafa vazia visitada pela linha; um retrovisor, fora do tempo, no lu(g)ar. Toda uma nudez. Sem vestido, in_vestido — vestido entre duas linhas.
O texto aplicado, bebível, traz uma linha infinda, contínua, da ribalta frente à cortina teatral, elevando-se até ao cimo dEUS. SusPenso. A criança ouve a voz da mãe, mas em baixo, junto ao vestido, aPenas vê o cenário listrado. Astigmático.Em palco. Entre duas linhas, múltiplas duas linhas. Sem desviado devir. De(u)sviado. Entre duas linhas.
Para um vacuus retrato de dEUS, 2022, António Barros, na peça, aí procura-se o “discurso como um vestido de mulher”; um “descobrimento” entre duas linhas, a des_cobrir que “deus havia inventado a culpa e o vestido” — fechando a nudez do ser, logo não mais nativo. Pois disse o poeta: “Em 1492, os nativos descobriram que eram índios, | descobriram que viviam na América, | descobriram que estavam nus, | descobriram que deviam obediência a um rei e a uma rainha de outro mundo e a um deus de outro céu, | e que esse deus havia inventado a culpa e o vestido | e que havia mandado que fosse queimado vivo quem adorasse o Sol e a Lua e a terra e a chuva que molha essa terra.” [in O Descobrimento, Eduardo Galeano]. Entre duas linhas “a culpa e o vestido”, invenção de deus — um vacuus retrato de dEUS sem fim. Finito.