Texto de António Barros sobre [Uma cadeira para NN], obgesto evocativo de “NN-Noite e Nevoeiro”, obra teatral criada a partir de “Auschwitz et Aprés” de Charlotte Delbo, Teatro do Morcego, Teatro Académico de Gil Vicente – Universidade de Coimbra. [Texto. Ligação]
Podemos considerar NN um acto consequente. O objecto genomático para a condição fundacional da comunidade artística ARexploratóriodasartes [Coimbra/Luxemburgo/Toronto – António Barros, Bénédicte Houart, Lúcia Ramos, Rui Soares, Sandra Resende, 2000-2004], daí a importância testemunhal dos seus elementos simbólicos. Dos seus obgestos. ‘Uma cadeira para NN’ é disso exemplo.
Nesta territorialidade artística, trabalhando as disciplinas fronteira das ‘performing arts’, encontramos nomes sinalizadores de uma ‘contaminação’ identitária particular. De Eimuntas Nekrosius, em Vilnius, à revisitação (sobre as narrativas do Butô de Tatsumi Hijikata) da obra de Sylvia Plath, as narrativas do Lugar – para o Lugar -, afirmaram-se únicas na condição enunciatória do Lugar – Lugar, um outro.
A plasticidade convocada para estas experienciações resultaram do – comungado e transversal – trabalho exploratório formulado com uma assinatura que assumi.
Criei plataformas propositivas [progestos] e elementos enunciatórios simbólicos [obgestos] para uma narrativa singular – a das artitudes sociologicamente comprometidas.
Formulemos o mapeamento, em forma de visitação no desenho da memória, para essa constelação de segmentos geradores de uma “escultura social” distintivamente artoral que mereceu comunhão constante com uma contemporânea condição do, e para o teatro. Teatro, um outro. Da presença à vacuidade do texto. Texto, um outro.
“ARde Tempo”, 2001, foi o primeiro trabalho desta constelação e foi realizado a partir do Livro do Desassossego de Bernardo Soares/Fernando Pessoa. O carácter vincadamente diarístico e fragmentário da obra permitiu projectar “ARde Tempo” – a partir de uma ideia dilatada de espaço e tempo dentro da própria representação teatral -, convocando assim dimensões cénicas particulares. O objecto artístico foi dividido em dois mistérios, cada um deles apresentado num espaço diferente, eleitos em função do percurso físico e dos intervalos temporais.
“A[R]MA-ME”, 2002, foi construído a partir das obras: Os Cadernos de Malte Laurids Brigge, A Balada do Amor e Morte do Alferes Cristovão Rilke e O Livro das Horas de Rainer Maria Rilke, formulando a espacialidade escultural – a ‘instalação’ necessária para a habitação performativa.
“ARiel”, 2003, trabalho construído a partir da dramaturgia orgânica de Tatsumi Hijikata, Ankoku Butoh e da obra homónima de Sylvia Plath, formulou-se num dispositivo de investigação sobre as artes do corpo.
“Goblin Market-L&L”, 2003, assumiu-se como uma criação desenhada a partir de Goblin Market e outros poemas de Christina Rossetti – poetisa inglesa do século XIX, uma das autoras mais originais do período vitoriano. O seu poema Goblin Market, texto alegórico da tentação e redenção feminina, apresentado em forma de conto, habitou o contexto cénico disponibilizado pelo bambuzal do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Integrou a obra a iniciativa “Coimbra 2003 Capital Nacional da Cultura”.
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