Nas paredes nuas, o texto

Texto de António Barros sobre a sua obra ‘Revolução’. [Texto. Ligação]


Reabri um livro que fala do Livro. Do Lugar_Livro e sua habitação. Esse estar em residência. E esse ler o residir logo revolve um lugar vivenciado a acolher palavras, onde palavras a escrever “Revolução”, também surgiram.

No livro, diz Thomas:

“O que mais me convém é estar só.

Considero realmente esse estado como um ideal. A minha casa é na verdade uma prisão gigantesca.

Isso agrada-me muito. Na medida do possível, paredes nuas. Nuas e frias. Têm um óptimo efeito no meu trabalho; nos meus livros, as coisas que escrevo são assim, parecidas com a minha casa. Surpreendo-me com frequência a achar que os capítulos de um livro são como as divisões da minha casa. As paredes vivem, não é verdade? E as páginas também, como as paredes. Isso basta. É preciso olhá-las intensamente. Quando se olha uma parede branca, vê-se que não é branca nem fria.

Quando se vive muito tempo só e já se está habituado, quando se exerceu a solidão e se está, a bem dizer, instalado nela, descobre-se sempre mais ali onde, por qualquer razão que não importa, não há nada. Distinguem-se minúsculas fissuras na parede, pequenos rebordos desigualdades, insectos. Há uma actividade monstruosa nas paredes.

Com efeito, as paredes e as páginas são perfeitamente semelhantes.” Thomas Bernhard, Trevas.

Vivi numa casa de paredes nuas. Nuas e frias. Lá ficou o texto. E a “rEvolução”.


Ver tb >