Texto de António Barros sobre a sua artitude ‘L á s t i m a’, num manifesto apresentado à Assembleia da República Portuguesa. [Texto. Ligações]
L á s t i m a, 2014, de António Barros – artitude, textos sobre 40 cravos negros, um Manifesto apresentado à Assembleia da República Portuguesa, obra que exalta os 40 anos do 25 de Abril. Leitura no Arquivo Digital da PO.EX e em http://barrosantonio.wordpress.com
“Lástima” resulta como uma artitude que procura conjugar o gesto performativo, gerado a partir de um conceito de sensibilidade situacionista, com a escrita de identidade poética e visual que a PO.EX busca contemplar.
A comunicação surge residente em múltiplos suportes dinâmicos, como ‘tarefa aberta’, e progressivamente partilhável em plataformas multimédia. As pautizações performativas convocam a leitura activa explorando ainda a sonoridade, a fonética e o canto. A constelação das 40 peças, que conjugam o texto com o objecto, procuram um resultado consequente enquanto objecto-livro, e lugar habitado, num quadro de potencial exploração de convulsivos envolventes cénicos.
“Lástima”, a obra – “o Poema_Manifesto” -, ao procurar retratar o presente do país real enuncia um lugar que se faz ilustrar no contraste narrado pelos comportamentos dos últimos dias: o revelado entre a manifestação de vitória de um clube de futebol vencendo o campeonato nacional, gesto “sintomático de uma população desfasada da realidade, que busca no festejo efémero (de conquistas de terceiros) a realização pessoal que lhe é barrada pelos caminhos da meritocracia” (Hugo Salgado) e, cinco dias depois, o da palidez na celebração evocativa dos 40 anos do 25 de Abril – data do acto militar que derrubou o regime de ditadura, devolvendo a democracia, e dando ao povo o direito de através do voto emancipar-se conduzindo os destinos do seu país.
Volvido este arco temporal de quatro décadas obriga acender a consciência e olhar o país de pessoas reais, onde, à arte cumpre denunciar a sua dor, a sua lástima, e o já pânico perante uma ditadura emergente, mas uma outra, esta vestida de cosméticas diversas e prolixas divinizações sofisticadas a esconder o abismo ameaçador, até porque “a ditadura perfeita terá as aparências da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão” (Aldous Huxley). Uma lástima.
Coimbra, 30 de Abril de 2014
Ver tb > Lástima
Breves comentários na moldura de “Lástima” >
- “Poemas sobre o nosso luto/a nesta triste comemoração dos 40 anos dos cravos vermelhos … que agora são negros … É uma subtil mas apropriada crítica”. Ernesto Melo e Castro [PO.EX]
- “Correcto: L á s t i m a é 40 vezes o nosso poemático desencanto actual em 2014. Por mais uma vez conseguiste, de uma forma brilhante e intensamente personalizada, ‘endoçar’ as mágoas de um POVO. Esmerado poetar”. Silvestre Pestana [PO.EX].
- “António, não imagino maneira mais lúcida – a poesia é o cume da lucidez – de celebrar os 40 anos do 25 de Abril”. Carlos Antunes [Director do CAPC].
- “L á s t i m a, 2014, considero que é um dos seus poemas mais poderosos de sempre. Estabelece uma relação dialógica e dialética notável com “Escravos”, 1977″. Uma edição de conjunto dos 40 poemas torna “Lástima” poderosa”. Jorge Pais de Sousa [Curador de: “Nas Escritas PO.EX”].
Ligações relacionadas com a intervenção >
- Poeta oferece 40 cravos negros à Assembleia da República, Luís Miguel Queirós [Público, 24/04/2014]
- LÁSTIMA [De Rerum Natura, 25 de Abril de 2014]