Texto de António Barros sobre a revisitação de ‘Black=Black’ para a exposição ‘Progestos_Obgestos’ (Coimbra, 2012), releitura a partir de “um animal chamado escrita” de Maria Gabriela Llansol.
“De um animal chamado escrita” é uma peça escultural – obgesto – que estabelece uma relação pretensamente dialogante com a escrita de Maria Gabriela Llansol. A máquina de escrever vestida com pele de cavalo, soltando um texto fundido no negro da página (usada na performance de Artitude:01 “Black=Black_Imagens e Sensações da Personalidade Coimbra”, no início dos anos oitenta no Teatro Estúdio do Citac da Universidade de Coimbra), contracena agora com a roupagem do autor que à secretária esvaziou-se do casaco, restando apenas o braço em cera, vela de prece, pintado de negro a esbroar das mãos que perderam os anéis e os dedos, gesto que inscreveu a performance “Vulto Limite” (República das Artes, Cerveira, evento dedicado a Ernesto Melo e Castro, 10 mar. 2012).
Sobre a mesa da secretária do espaço de trabalho para Escritores Residentes da Casa da Escrita, em Coimbra) surge dentro do emoldurado a negro o texto “Arte SocioLógica”, fabricado em resposta a um desafio fluxista formulado por Serge III Oldenbourg afim de publicação na revista ‘Calibre33’, Nice e ‘Rapport’, Paris (texto, obra hoje parte Integrante da Coleção da Fundação de Serralves, Museu de Arte Contemporânea do Porto).
Esta constelação de três peças numa interação narrativa convulsiva (apresentada em Progestos_Obgestos), [d]enuncia – em toda a sua cénica habitada pelo corpo ausente – um estádio de uma emergência de morte da Condição e do Sentido. Flama do “caos em si”. Nas palavras de Nietzsche – É preciso ter o caos em si mesmo para ser capaz de dar à luz uma estrela dançante.
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