Pensar António Aragão

Texto homenagem de Silvestre Pestana a António Aragão publicado no catálogo da exposição ‘Pensar Aragão’. [Texto. Ligação]


Conheci o Dr. António Aragão no café Apolo, através do meu colega liceal Humberto Spínola, com quem participei em diversas exposições promovidas pelo grupo juvenil 5 Pintores Madeirenses, constituído por António Nelos, Humberto Spínola, Prioste e A. Velosa. Juntos, tínhamos visitado as duas exposições de Arte Moderna promovidas por António Aragão e Carlos Lélis, que ocuparam o andar superior da loja de antiguidades Casa Caires, à Rua Fernão de Ornelas, trajeto comum para o Liceu Egas Moniz.

O Dr. António Aragão era a figura central nas longas horas que passávamos à volta da mesa do café. Discutia-se de uma forma informal a Arte, pois, como pano de fundo a cidade cultural madeirense, só reconhecia à altura como válidos os pintores camarários de marinhas, o escultor Anjos Teixeira e o paisagista austríaco Max Romer.

Era decididamente muito pouco. Foi através destes encontros informais com António Aragão, que fui introduzido ao grupo com quem vim mais tarde a colaborar, constituído pelo Vicente Jorge Silva, o Luís Angelica, o Prioste, o Ara Gouveia e o Artur Andrade que refundaram o Comércio do Funchal. Foi através deste grupo inicial, que tomei conhecimento da pertinência da Arte Contemporânea.

Entusiasmado, recitei nas sessões organizadas por António Aragão no Pátio das Artes, poemas concretos de autores brasileiros.

No rescaldo dum profundo trauma familiar, passei a frequentar ao domingo de tarde o atelier do António Aragão, onde em conjunto, realizamos cerca de doze Cartão Poema(s), de tesoura em risco, recortando títulos de jornais, agrupando os fragmentos, que uma vez lidos em voz alta, colávamos sobre placas de cartão A4.

Nesta exposição comemorativa, apresento pela primeira vez cinco desses Cartão Poema(s) não assinados.

Entretanto, parti para o Porto para frequentar a Escola Superior de Belas Artes.

Recomendado por António Aragão, encontrei-me pela primeira vez com Ernesto Melo e Castro, que estava a recolher poemas objecto para os incluir na edição que se encontrava a preparar a Hidra2, coletânea esta, que vim a participar com o poema Atómico Acto.

Como pano de fundo social, vivia-se intensamente a guerra colonial e o recrutamento militar. Foi decisivo para mim o empréstimo monetário realizado pelo António Aragão, que me permitiu decidir e partir para o exílio.

Em 1971, António Aragão visitou a cidade de Estocolmo, onde juntos visitamos o Moderna Museet e o centro experimental Fylkingen. Mais tarde, orgulhoso com o 25 de Abril 1974, enviou-me uma foto da rua da primeira comemoração do 1º de Maio na Madeira em que se encontra na primeira fila. Regressei ao Funchal em outubro. Depois de uma sessão noturna do cineclube no Teatro Baltazar Dias, conjuntamente com António Aragão, contando com o apoio logístico oferecido pelo então capitão Rui Carita, procedemos a um simulacro de um rapto da lindíssima Agy, ato este, que posteriormente virou uma comédia, ao se pretender evitar que esta donzela, viesse a sofrer a violência publicamente prometida pelo pai exaltado, o excêntrico aracnologista suíço WinkelMeier.

A Arte e a Vida & a Vida e a Arte


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