Artigo de Débora Cristina Santos e Silva sobre a obra de Antero de Alda, web-poeta português contemporâneo que recorre à convergência de mídias, elaborando suas páginas numa composição dinâmica e multidimensional. [Texto. pdf]
SILVA, D. C.; SILVESTRE, H. de A.; SANTOS, M. G. (2014). Representações da modernidade líquida na ciberpoesia de Antero de Alda. In: TORRES, R. (Org.). Poesia Experimental Portuguesa: Contextos, Ensaios, Entrevistas, Metodologias. Porto: Edições UFP, p. 83-100. ISBN 978-989-643-121-1. Disponível em < https://po-ex.net/taxonomia/transtextualidades/metatextualidades-alografas/poesia-experimental-portuguesa-contextos-ensaios-entrevistas-metodologias >.
Resumo > Este artigo propõe uma leitura das representações da “modernidade líquida” na obra de Antero de Alda, web-poeta português contemporâneo, que produz e dissemina sua poesia em meio digital. O autor, recorrendo à convergência de mídias, elabora suas páginas numa composição dinâmica e multidimensional pelo uso de recursos de áudio e vídeo, fotografia, animações, narrativas, poesia cinética e multimídia. A pesquisa desenvolveu-se a partir da análise, interpretação e exercícios de reescrita dos poemas disponíveis no sítio do autor, considerando-se as dimensões referencial e simbólica da linguagem poética e das suas produções hirpermídia. O cerne das análises, nesse enfoque, são as proposições de Zygmunt Bauman sobre as transformações socioculturais do início do século XXI, quando apresenta e discute o conceito de “modernidade líquida”, numa contextualização da literatura eletrônica.Colocar-se diante da obra de Antero de Alda é ter o privilégio de encontrar quem pense a contemporaneidade e visite outros tempos, de maneira crítica e equilibrada, numa perspectiva lúcida e envolvente, sem perder, entretanto, o ethos da liberdade poética. Considerando as condições de produção dos textos de Alda, sua preocupação com os sofrimentos dos idosos portugueses, das mulheres afegãs no pós-guerra, das crianças do Laos, e de toda uma temática de denúncia social e política, não se pode negar que sua obra incita o leitor à crítica a um modelo de pensar imposto e alienante, e busca não mais o retrato, enquanto reflexo da sociedade e do homem, mas a “retratação”, no sentido mesmo de “reparação”, de construção de um novo modo de ver e questionar o mundo e, a partir disso, promover mudanças. Contudo, as ferramentas que possibilitam ao sujeito lírico se colocar de forma consciente e contestadora em relação a esse pensamento institucional, que é a ideologia, parte da ação individual de identificação e resistência até uma ação coletiva de contestar, e não somente assimilar aquilo que é produto de uma reflexão crítica. É assim que, diante de um realismo maduro, comprometido com os homens de seu tempo, Alda assume uma postura visionária de seu fazer poético, transcendendo os limites da palavra escrita, para registrar, com a força eloquente de suas imagens, esse “espírito de época” que demarca a cibercultura.
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