Call for Papers de Conferência sobre poesias performativas na FLUL. [Texto. Ligações]
Datas da conferência: 29-30 de Outubro 2018 / Workshop de Cristian Forte: 31 de Outubro 2018 (11h-17h)
Local: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
Prazo para envio de propostas: 20 de Agosto 2018
Comunicação de resultados: 1 de Setembro 2018
Poesias performativas: teorias e práticas. Perspectivas comparadas
Conferencia Internacional & workshop, 29-31 outubro 2018
Centro de Estudos Comparatistas, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
CHAMADA PARA INVESTIGADORE(A)S E ARTISTAS
A performance esteve desde sempre ligada à poesia, desde as tradições de poesia oral e de declamação, até às experiências vanguardistas de inovação poética ou as práticas de conferência-performance. Contudo, a criação poética, a partir da Modernidade, continuou a estar associada sobretudo à leitura individualizada e à fixação do texto na página, relegando para segundo plano outras formas de produção poético-performativa, corporalizadas, que recorrem ao uso de outros media de produção e recepção, nomeadamente formas experimentais, conceptuais, cénicas, improvisadas, de realização site-specific para se atingir o seu sentido pleno.
No entanto, actualmente, assistimos a uma renovação das práticas poéticas ao vivo que ocupam o espaço público, com o sucesso internacional do slam, dos open mics, das sessões de poesia dita, da canção, ou dos festivais de poesia, acompanhadas por uma revalorização da oralidade e pelo reconhecimento do papel central das “poesias fora do livro” na literatura contemporânea em geral. Se essas manifestações correspondem muitas vezes a circuitos alternativos, e à vontade de defender formas colectivas, populares, participativas, constatamos ao mesmo tempo a multiplicação dos eventos e espaços institucionais dedicados à poesia em performance. Simultaneamente, as novas tecnologias, os mass media e o numérico tiveram um impacto importante sobre a criação e difusão da poesia, por exemplo, com o surgimento da poesia digital. A diluição de fronteiras entre disciplinas artísticas tem encorajado práticas multimédia, que combinam a palavra com o som, a imagem, a dança, a instalação, etc., existindo numa zona intermédia, às vezes difíceis de definir.
Paralelamente, constatamos nos últimos anos o surgimento de vários trabalhos inovadores sobre as relações entre poesia e performance, que respondem não só a este vitalismo artístico, mas também a novos conceitos teóricos advindos da área de estudos da intermedialidade. Em Portugal, destacamos as pesquisas recentes sobre poesia experimental portuguesa das décadas 1970-80, derivadas do projecto PO-EX (https://po-ex.net), nomeadamente as publicações de Rui Torres e Manuel Portela sobre poesia concreta, visual e sonora, ou a tese de Sandra das Candeias Guerreiro Dias sobre a “performance experimental poética” em Portugal (2016). No caso da França, Olivier Penot-Lacassagne e Gaëlle Theval acabam de publicar um livro colectivo sobre a “poesia-performance” francesa (2018); Stéphane Hirschi, Alain Vaillant e outro(a)s um volume de ensaios sobre a vocação social e musical da poesia (2017); na senda da tese pioneira de Céline Pardo sobre a “poesia além do livro” (2014). Estes estudos reforçam um campo da literatura até há pouco negligenciado pela crítica, salvo trabalhos seminais como os de Paul Zumthor e Ruth Finnegan sobre “poesia oral”, Charles Bernstein com o performed word, ou Jean-Pierre Bobillot com a “mediopoética”.
Estes estudos continuam, contudo, centrados em períodos históricos e áreas culturais precisos, existindo ainda poucas abordagens comparatistas dessas poesias, com a excepção de alguns trabalhos transnacionais como os de Cornelia Gräbner e Arturo Casas sobre performance poetry em vários países (2012), de Claude Calame, Florence Dupont, Maria Manca e Bernard Lortat-Jacob sobre poesias orais e cantadas da Antiguidade à atualidade, numa perspectiva etnopoética (2010), ou o largo gesto antropológico de Jerome Rothenberg em Technicians of the Sacred (1968), que confrontava os happenings da vanguarda europeia com poesias e cantos rituais e tradicionais no mundo.
Com esta conferência internacional, propõe-se assim estimular uma perspectiva comparatista, interdisciplinar, transnacional e intermedia das poesias performativas, focando filiações, movimentos de circulação, intercâmbios entre poetas, formas artísticas e países, fenómenos de contaminação, de transposição mediática e de remediação, centrados nos séculos XX e XXI, com o objectivo de contribuir para uma visão alargada e renovada das várias formas de definir e praticar a poesia no mundo contemporâneo. Entendemos por “poesia performativa”, práticas poéticas nas quais a realização do poema implica uma acção em directo e uma forma de participação física, seja do(a) poeta (pelo seu corpo ou a sua voz, imediata ou mediatizada), de um(a) intérprete (recitador(a), actor(triz), performer), ou do público, transformado em “co-enunciador”, que intervém directamente na elaboração do poema e do evento (respondendo, cantando, desafiando ou manipulando). Nesta definição aberta podem ser incluídas várias práticas, géneros, formas e denominações: poesia oral/aural, cantada, sonora, acústica, de intervenção, experimental, digital, spoken word, slam, rap, poesia radiofónica e televisual, e qualquer forma de arte performativa considerada (e reivindicada) como poesia, tendo ou não uma componente verbal.
Possíveis tópicos para propostas:
- aspectos estéticos e poéticos: questões formais, estilísticas, pragmáticas em torno das poesias performativas, como a descentralização (ou mesmo ausência) do texto; a função das componentes sonoras, vocais, musicais, cinésicas, performativas; poéticas intersemióticas e multimédia; relação entre palavra, som e outras linguagens
- questões teóricas e metodológicas : (re)definições da poesia, ou de aspectos como a prosódia, o texto, a interpretação, etc.; poesia e intermedialidade
- dispositivos, materialidades, modos específicos de criação e de recepção, media e tecnologias
- práticas de improvisação, recitação, declamação, encenação, musicalização e gravação da poesia e da palavra falada; análise de poetas, grupos ou movimentos particulares, em Portugal e no mundo, nos séculos XX e XXI
- perspectivas comparadas: filiações, circulações, intercâmbios entre poetas, línguas e países ; convergências transnacionais e especificidades locais
- fenómenos de contaminação e de confrontação entre vários media; operações de transposição mediática e de remediação
- poesia no espaço público, funções sociais, formas de intervenção e de participação
- problemas de transmissão e de reprodutibilidade das obras; arquivos e conservação; institucionalização e patrimonialização das poesias performativas
- apresentação dum projecto concreto ou duma experiência pessoal ou colectiva: projecto artístico, festival, acção cultural…
- poesia digital e digitalização da poesia performativa, novas “visibilidades” contemporâneas
Além de apresentações académicas, convidamos artistas a vir apresentar a sua prática poética, em forma de conferência e/ou de demonstração.
Para participar, enviar propostas de comunicação ou de apresentação artística (máximo de 300 palavras), acompanhada de nome, instituição e nota biográfica (máximo de 250 palavras) para poesiasperformativas [at] gmail [dot] com. As propostas podem ser feitas em português, inglês, francês ou castelhano.
A conferência será seguida de um workshop de Cristian Forte, poeta e performer argentino residindo em Berlim (ver: https://crowd-literature.eu/cristian-forte/), também keynote speaker da Conferência, intitulado “Evento Literário / Laboratório de escritas e poéticas em acção” (participação mediante inscrição prévia, lugares limitados: poesiasperformativas [at] gmail [dot] com).
- Prazo para envio de propostas: 20 de Agosto 2018
- Comunicação de resultados: 1 de Setembro 2018
- Datas da conferência: 29-30 de Outubro 2018 / Workshop do Cristian Forte: 31 de Outubro 2018 (11h-17h)
- Local: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Alameda da Universidade, 1600-214 Lisboa (Portugal)
- Inscrições: até 15 de Outubro: 30€ / 20 € estudantes e investigadores independentes
Organização: Manuela Carvalho, Pénélope Patrix e Marta Traquino (CEC, FLUL)
Esta atividade insere-se no âmbito do projeto Off-Off Lisbon do grupo THELEME do Centro de Estudos Comparatistas (CEC-FLUL)
Referências bibliográficas:
BERNSTEIN Charles (ed.), 1998, Close Listening. Poetry and the Performed Word, New York/Oxford, Oxford University Press
BOBILLOT Jean-Pierre, 2016, Quand écrire, c’est crier. De la poésie sonore à la médiopoétique et autres nouvelles du front, Saint- Quentin-de-Caplong, Atelier de l’Agneau
BOBILLOT Jean-Pierre, 2006, “La voix réinventée. Les poètes dans la technosphère”, Histoires Littéraires, vol. 28, pp. 25-44
CALAME Claude et alii. (eds.), 2010, La voix actée. Pour une nouvelle ethnopoétique, Paris, Kimé
DIAS Sandra Isabel das Candeias Guerreiro, 2016, O Corpo como Texto: Poesia, Performance e Experimentalismo nos Anos 80 em Portugal, Tese de doutoramento, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, online: http://hdl.handle.net/10316/29608
FINNEGAN Ruth, 1977, Oral poetry. Its nature, significance and social context, Cambridge, Cambridge University Press
GRÄBNER Cornelia & CASAS Arturo (eds.), 2012, Performing Poetry. Body, Place and Rhythm in the Poetry Performance, Amsterdam/New York, Rodopi
HIRSCHI Stéphane et alii. (eds.), 2017, La poésie délivrée, Paris, Presses universitaires de Paris Nanterre
PENOT-LACASSAGNE Olivier & THÉVAL Gaëlle (eds.), 2018, Poésie & Performance, Paris, Éditions Nouvelles Cécile Defaut
PARDO Céline, 2015, La poésie hors du livre (1945-1965). Le poème à l’ère de la radio et du disque, Paris, Presses de l’université Paris-Sorbonne
PORTELA Manuel, 2014, “Multimodal Editing and Archival Performance: A Diagrammatic Essay on Transcoding Experimental Literature”, Digital Humanities Quarterly, vol. 8/1, online: http://www.digitalhumanities.org/dhq/vol/8/1/000175/000175.html
PORTELA Manuel, 2013, Scripting Reading Motions: The Codex and the Computer as Self-Reflexive Machines, Cambridge, MA: The MIT Press
ROTHENBERG Jerome (ed.), 1968, Technicians of the sacred. A Range of Poetries from Africa, America, Asia, Europe, and Oceania, Garden City, New York, Anchor Doubleday
TORRES Rui, 2015, “Voz Verbal Vocal. Poesia sonora de Américo Rodrigues”, Interact, Revista online de Arte, Cultura e Tecnologia, vol. 22, online: http://revistainteract.pt/22/voz-verbal-vocal/
TORRES Rui, 2007, “Transposição e variação na poesia gráfica e espacial de Salette Tavares”, Aletria: revista de estudos de literatura, vol. 14, online: http://hdl.handle.net/10284/3451
TORRES Rui & PORTELA Manuel (eds.), 2014, “PO.EX‘70-80: Um Arquivo Digital da Literatura Experimental Portuguesa”, online: https://po-ex.net
ZUMTHOR Paul, 1983, Introduction à la poésie orale, Paris, Seuil