Três peças de António Barros em exposição da 6ª Edição da Bienal de Arte Têxtil Contemporânea. [Sinopses. Imagens]
10 ARTISTAS – O TÊXTIL NA ARTE PORTUGUESA – A exposição assenta na ideia de tempo reacção tempo que nos apresenta obras de artistas portugueses, com maior incidência a partir do anos 60/70 ( altura em que o maior interesse pela arte têxtil surgiu em Portugal ), que incluíram nas suas práticas artísticas o têxtil quer através da técnica, da matéria ou do pensamento-processo. Obras dos Artistas: Ana Vieira, António Barros, Eduardo Nery, Gisella Santi, Joana Vasconcelos, João Pedro Vale, Nuno Alexandre Ferreira, José de Guimarães, Leonor Antunes, Lourdes Castro e Margarida Reis.
CIAJG – Centro Internacional das Artes José de Guimarães, 3ª a 6ª feira 10:00 às 17:00, Sábado e domingo das 11:00 às 18:00.
Exposição integrante da 6ª Edição da Bienal de Arte Têxtil Contemporânea, 3 SET — 30 OUT 2022. + info @ https://contextile.pt/2022/
TRÊS PEÇAS DA COLEÇÃO DA FUNDAÇÃO SERRALVES
António Barros
Revolução | 1977
É este texto visual uma das peças identitárias e distintivas da linguagem explorada pelo autor desde o início dos anos setenta, escrita a que chama esgrita. Referência no domínio da Literatura Experimental Portuguesa, é António Barros considerado também um dos pioneiros das Artes da Performance em Portugal, experienciando as artes do desempenho do corpo, onde o corpo como suporte surge como um dos desígnios do objecto_livro. Nos III Rencontres Internationales de Poésie Contemporaine _Festival de Cogolin, 1985, a artitude gerada é exemplo da função conjugada com o vestuário, aqui grafado com o texto “Escravos” no peito, e portando a bandeira expandida do sinalizador de fronteiras com o texto “Revolução”. A estes objectos transitivos, elementos adereçantes da razão, testemunho_memória da acção, o autor no seu léxico distintivo chama obgestos. Esta artitude performativa, em França, Cogolin, mereceu – em pretenso diálogo – uma intervenção inédita do poeta da TheBeat Generation Lawrence Ferlinghetti. Entre múltiplas e convulsivas apresentações surgidas foi, a peça aqui (d)enunciada, “Revolução” apresentada na Prague City Gallery, “Carnations and Velvet _Art and Revolution in Portugal and Czechoslovakia (1968-1974-1989), 2019.
Imagens: Festival de Cogolin, França; Museu Serralves, Porto
PreSente/AuSente | 1979
O suporte como caixa múltipla explora não apenas a hermenêutica dos conceitos trabalhados pela palavra, como também os desígnios sensoriais que a moldura convoca e obriga. O desafio gregário foi formulado por José Ernesto de Sousa à comunidade artística Diferença, em Lisboa, a quem o autor então pertencia na década de 80. Da Diferença identitário era ser “fora da caixa”. Mas tornou-se este desígnio verbicovisual uma assinatura, marca nominal e figurativa, do percurso de António Barros, aquando a experienciação de um outro modo de conjugar as artes da acção com o corpo a distância. Toda uma performance do corpo auSente, essa que assim resulta preSente quando Sente, s(e)Ente, insinuando-se numa afirmação convulsiva de condição e sentido. A roupa que veste o corpo surge então como desígnio, marcador do manifesto, este de contaminação fluxista. George Maciunas ficaria contente. O autor trabalhou, e formulou contributos de arte, com: Robert Filliou, Serge III Oldenbourg, Wolf Vostell, e Yoko Ono, artistas na senda do Movimento Artístico Internacional FLUXUS.
Imagens: Casa da Escrita, Coimbra | MUDAS.museu, Madeira
Autista | 1985
O estudo prévio deste objecto_texto surge de modo primeiro publicado em “Poemografias” [perspectivas da poesia visual portuguesa, Ulmeiro, Lisboa, 1985]. E logo recorre ao suporte têxtil do objecto bandeira para ser grafado o texto visual, autoscópico, comprometido com um questionamento convulsivo. O metafórico objecto depois de Joan Brossa. Um alimento galvanizador de procura do sentido. Hermenêutico, ou não teríamos Gadamer assertivo ao fundo. E desafia a lógica, o lugar, a gravidade e o espaço desenhado, arquitectónico. Em “Passagens” (2017), o gesto obgesto bem o ilustra. Desafiando, sempre desafiando, o artista procura reinventar-se e gerar o gRito, não o bErro (AB). O homem precisa de rituais para tornar a vida mais [que] suportável. Para além do dizer, di_sendo, obriga fazer-se transcender para além da moldura e agonia da inteligibilidade. Sempre sem destruir a magia. “A interpretação é a vingança do intelecto sobre a arte. Mais do que isso, é a vingança do intelecto sobre o mundo. Interpretar é empobrecer, esvaziar o mundo. Quando reduzimos a obra de arte ao seu conteúdo, e depois a interpretamos, domamos a obra de arte. A interpretação torna a obra inerte, dócil” (Susan Sontag).
Imagens: “Passagens”, Coleção Fundação Serralves, Matosinhos
Panorâmica da Exposição >
Imagens: António Barros, Centro Internacional das Artes José de Guimarães, 2022
António Barros, estudos e investigação na Universidade de Coimbra, e Universidade de Barcelona, no domínio do binómio: Arte e Educação. Docente convidado na Universidade do Porto e Universidade de Coimbra. Na senda das actividades curatoriais assumiu: Alquimias dos Pensamentos das Artes_Encontros de Arte Coimbra 2000; Projectos & Progestos_Tendências Polémicas nas Linguagens Artísticas Contemporâneas_Academia de Coimbra, 1980-1984; Dois Ciclos de Exposições: Novas Tendências na Arte Portuguesa e Poesia Visual Portuguesa, CAPC_Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, 1979-1980; e, e. o., assumiu a Direcção de Imagem dos European University Games 2018 _Universidade de Coimbra. Actividades conjugadas na criação dos programas e comunidades artísticas: Artitude:01; ARexploratóriodasartes; e Círculo de Artes Plásticas da Academia de Coimbra.
Obra nas coleções do MNAC_Museu Nacional de Arte Contemporânea; Museu da Presidência da República Portuguesa; MuseuSerralves; MUDAS.museu; Museu da Fundação Bienal de Cerveira; MVM_Museo Vostell Malpartida e Fundaciò Joan Brossa, Barcelona, e. o. Dos múltiplos textos por António Barros publicados sobre a Arte nas décadas de 70 e 80, temos “A Geração Black Cube”, Revista Rua Larga, Universidade de Coimbra, assim como os livros: “John Cage, música Fluxus e outros gestos da música aleatória em Jorge Lima Barreto”, edição Alma Azul, 2013, Coimbra; e “Vulcânico PaLavrador_uma elegia a António Aragão”, edição: MUDAS.Museu de Arte Contemporânea da Madeira, 2021, Funchal.