Texto de António Barros sobre arte urbana e sua obra Urban Life. [Texto. Ligações]
A “arte comprometida”, a arte como processo de operacionalização sociológica, de educação, sensibilização e consciência, formula situações singularmente nevrálgicas. A “escultura social” beuysiana é referente, e a cultura fluxista assumida, contaminação galvanizadora.
“Urban Life_Não posso“, resulta como uma situação particular onde o processo e a sua consequência merecem leitura.
O texto primeiro surge grafitado no suporte urbano da cidade para leitura pública. O seu autor, gerador, é anónimo. O manifesto operacionalizado a partir de stencil, torna o gesto convulsivo e a marca surge em diferentes lugares da malha urbana. A indiferença perante o registo é difícil. A leitura resulta obrigatória. Mais, ou menos, nervosa. Mais, ou menos, empática. E de modo autónomo de um gesto crítico perante a legitimidade ou indisciplina da recorrência ao suporte e modo que o graffiti opera. Aqui fazemo-nos residir no texto e seu conteúdo. E na sua raiz pretensamente situacionista. Estamos na rua. A palavra Na rUA.
Uma leitura – contendo pro_vocação – é a leitura que aqui se opera como conotação conduzida para uma exploração de requalificação. O propósito é, a partir do texto primeiro – aqui sujeito a uma apropriação convulsiva – fazer gerar um texto outro. Agora de enquadramento visualista. E uma nova peça, autoral, sucede. Urban Life é o contexto de plataforma enquadradora. “Nãoposso” – a peça parte integrante da coleção. “Urban Life_Não posso” a titulação a resultar como marca nominal do objeto. António Barros o (novo) autor.
O objeto é editado. A sua publicação pode surgir de modo diverso. Centremo-nos contudo num enquadramento particular: a exposição Arte Urbana em MUPIS “20 Artistas na Cidade“, a arte numa difusão em MUPIs (Mobiliário Urbano Para Informação), residindo na cidade do Porto de 29 de junho a 13 de julho de 2016, uma realização da AMIarte, iniciativa do Núcleo de Ação Cultural da Fundação AMI (Assistência Médica Internacional), comissariada por Helena A M Pereira, nesta 8a edição.
A comunidade da cidade (aqui a do Porto) é assim convocada a uma nova leitura. Novas aproriações semânticas. Mas também a colecionar cada uma das peças expostas adquirindo-as num público Leilão de Obras de Arte. A peça é vendida, e o valor financeiro adquirido resulta contributivo de uma operação da Fundação AMI, desígnio onde o gesto numa política constante de “inclusão”, é dar continuidade a um Apoio Social ao cidadão carenciado. Anular a fome (em 2015, em idêntica condição, foram servidas cerca de 211.000 refeições).
Retomando o percurso historicizante do texto primeiro, grafitado, resgatado à rua, e gerado na indisciplina, vemos como ele pode, contudo, resultar consequente, mas de um modo diferenciado do que resulta comum. E isso deve-se, agora, a um particular contributo de uma arte de compromisso sociológico.
Este fluxo (tão identitário da cultura FLUXUS) resulta ilustrativo de como o processo “Arte_Vida,Vida_Arte” (fluxista) tão naturalmente aqui se opera e concretiza. O motivo motor volta à rua, mas agora em modo de refeição. O prato. O prato cheio [o prato cheio de matéria – e o luto dEnunciado pela negritude do conteúdo e da escrita, todo um gesto que é elemento simbólico e convulsivo em toda a obra do autor – o aqui agenciante]. E onde “Urban Life_Não posso” resulta como uma parte integrante e de vivenciação. Continuada.
Esta narrativa metabólica – dando sentido de circuito – é também orientadora de como este entendimento da arte (e sua operacionalização em processo) pode resultar como ferramenta de orientação. Como modo didatizador da consciência de como poderemos formular entendimentos da arte. Renovadores. Catárticos. De como resolver modos, outros, de afirmação da palavra na rua. Da palavra Na rUA. De dar vida constante, e pretensamente nevrálgica, a um modo de fazer poesia. Poesia visual. Visualista e irrequieta. Galvânica de uma vida em fluxo. De vivenciação, onde as inquietações que pululam numa formulação de consciência social resultam, em simultâneo tempo, geradoras de alimento de alma, a que sustenta, mas também do corpo que a suporta. Suporte. Um todo. Um todo Arte. Na procura do Ser Total. Mas, e fundamentalmente, do Sentido.
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