Texto de Daniela Côrtes Maduro acerca da série de videopoemas criados por E. M. de Melo e Castro no Instituto Português de Ensino à Distância e na Universidade Aberta entre 1985-1989. [Texto. Ligações]
[Este texto foi também publicado em inglês no Electronic Literature Directory, parceiro institucional do Po-ex.net – http://directory.eliterature.org/node/3904]
Signagens (1985-1989) é uma série de videopoemas criado por E. M. de Melo e Castro no Instituto Português de Ensino à Distância e na Universidade Aberta. Melo e Castro. Considerado um pioneiro na criação de poesia concreta e videopoesia em Portugal, foi um dos colaboradores na Poesia Experimental (1964) e organizador da segunda edição desta revista, publicada em 1966. O trabalho de Melo e Castro caracteriza-se pela construção de experiências com vários materiais e vários média, tendo produzido videopoesia, performances e instalações. Para escrever os videopoemas nesta série, o autor usou os estúdios da RTP e novo equipamento digital e electrónico (Reis, 2014: 105). Melo e Castro propõe frequentemente exercícios teóricos e auto-reflexivos sobre a linguagem e tecnologias de inscrição. De acordo com o autor, a videopoesia propõe a fusão entre dois quadrantes (Melo e Castro, 2014: 89): a oralidade (“som, tempo e valores rítmicos, a pender para a música”) e a visualidade (“valores visuais e espaciais, a pender para as artes plásticas”). Segundo Melo e Castro, um videopoema realiza uma “dinâmica verbal-vocal-sonoro-visual-colorida” (Melo e Castro, 2007: 179) oferecendo ao leitor uma experiência sensória acrescida.
Com a excepção de “Vibrações digitais de um protocubo”, onde a linguagem verbal não é incluída, o alfabeto é transformado num conjunto de figuras animadas que são manipuladas para expressar uma ideia de movimento e de recombinação imparável. A tecnologia é usada para gerar “uma combinação de palavras, símbolos e efeitos visuais” (Funkhouser, 2007: 123). O entusiasmo com as possibilidades trazidas pela tecnologia é descrito por Melo e Castro no seguinte excerto: “Um certo fascínio e desejo de aventura levou-me a pensar que as letras e os signos, até agora paralisados na página, poderiam ter movimento próprio. As palavras e as letras poderiam ser, por fim, livres” (Kac, 2007: 176).
A linguagem alfabética é convertida numa linguagem ideográfica cuja capacidade de expressar conceitos e ideias é meticulosamente reformulada. A confluência entre imagem e letra é expressa pelo videopoema “Escrita da memória”, onde a escrita alfabética e o seu passado hieroglífico e ideogramático surgem representadas lado a lado. Em Signagens, letras e ícones tornam-se frequentemente indistintos. O texto não introduz uma colagem de diferentes linguagens, mas uma nova linguagem que o leitor tem de aprender. De acordo com Melo e Castro, “as novas tecnologias introduzem uma nova gramática de transformação visual” que desafia “a criatividade do artista e as capacidades do leitor” (Melo e Castro, 2014: 90). Através de uma interrupção ou de uma cesura drástica entre significado e significante, as palavras são sujeitas a um processo de estranhamento que as transforma em formas enigmáticas, adiando a produção de significado.
Ler tb >
- Biografia de E. M. de Melo e Castro
- Signagens, de E. M. de Melo e Castro
Referências >
CASTRO, Ernesto Melo e (2014). “An Intersemiotic Network”, in PO.EX: Essays from Portugal on Cyberliterature and Intermedia by Pedro Barbosa, Ana Hatherly, and E. M. de Melo e Castro. Eds. Torres, Rui and Sandy Baldwin. Center for Literary Computing: West Virginia University Press, 87-116. Disponível em: https://po-ex.net/taxonomia/transtextualidades/metatextualidades-alografas/e-m-de-melo-e-castro-an-intersemiotic-network
CASTRO, Ernesto Melo e (2014). “Videopoetry”, in Media Poetry: An International Anthology. Ed. Kac, Eduardo. Chicago: The University of Chicago Press, 175-184. Disponível em: http://www.ociocriativo.com.br/guests/meloecastro/video.htm [dead link]
FUNKHOUSER, Chris T. (2007). Prehistoric Digital Poetry: An Archaeology of Forms, 1959–1995. Tuscaloosa: The University of Alabama Press.
REIS, Pedro (2014). “Videopoesia: Produção Poética Híbrida em Língua Portuguesa”, in Poesia Experimental Portuguesa: Contextos, Ensaios, Entrevistas, Metodologias. Ed. Torres, Rui. Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa, 101-116. Disponível em: https://po-ex.net/taxonomia/transtextualidades/metatextualidades-alografas/pedro-reis-videopoesia