Meta-Sonorização. Em Diálogo com Ana Hatherly

CD de Berlau (Fernando Ramalho) em diálogo com «Livro IV – Meta-Leitura (1968-69)» de Ana Hatherly. [Áudio. Imagens]


Descrição > Autor: Berlau / Fernando Ramalho | Título: Meta-Sonorização. Em Diálogo com Ana Hatherly | Data: 2017 | Concebido, gravado e produzido no Barreiro, entre Abril e Julho de 2017, por Fernando Ramalho | Edição em CD com apoio da Fundação GDA.


O que dizemos é tanto as palavras que pronunciamos como os silêncios que introduzimos entre elas. Este exercício ocupa-se, em boa medida, desses silêncios. Pretende averiguar o que sucede quando suprimimos determinadas parcelas de um texto que se diz e as substituímos por blocos de silêncio, ou seja, quando aumentamos o silêncio entre as palavras que pronunciamos. Quando se opta por não pronunciar certas palavras, que consequências resultam para o texto de onde as suprimimos, assim como para o que fica dito e para o que fica por dizer?

Meta-Sonorização pretende dialogar com o trabalho da poeta Ana Hatherly – prolífica autora da chamada poesia experimental portuguesa –, designadamente com o seu «Livro IV – Meta-Leitura (1968-69)», incluído na obra Anagramático (Lisboa: Moraes Editores, 1970). Aí, Hatherly ensaia um exercício de construção e manipulação do texto poético, suprimindo sistematicamente parcelas de um texto-base, procurando reflectir sobre os impactos dessas operações no seu significado e integridade. Hatherly, no teorema que antecede o texto-base, afirma que «Ao nível do significado, um texto poético possui tal integridade funcional e é constituído por elementos de tal modo autónomos que suporta sem prejuízo as fragmentações mais sistemáticas».

Meta-Sonorização é um exercício semelhante, que procura aplicar a uma composição sonora o mesmo método e o teorema de Hatherly. Trata-se de um conjunto de oito faixas, em que a composição sonora-base (faixa 1) é, nas faixas seguintes, submetida à supressão de determinadas parcelas. Pretende-se, desse modo, pensar a forma como, à semelhança do texto poético, também os diversos elementos que integram uma composição sonora são suficientemente autónomos para produzirem significados próprios, sem que, com a sua supressão, a integridade da composição seja afectada. Também as partituras do exercício, que a seguir se reproduzem, foram concebidas num sistema de notação que procura seguir o método experimental de Hatherly.

September 25, 2017


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I – alfabetos juncavam as cidades 06:00


II – colados à pele (eliminação dos alfabetos) 06:00


III – livremente carregadas de tinta (negativo de VI) 06:00


IV – aspiram ao legível respiro (negativo de V) 06:00


V – maiúsculas e corredores vazios (eliminação das cidades) 06:00


VI – imagens e florestas de papel (eliminação do verbo juncar) 06:00


VII – desejam imprimir o meu corpo (negativo de II) 06:00


VIII – a ilegibilidade permanece além (negativo de I) 06:00


V(l)er tb >


[Agradecemos a Fernando Ramalho a autorização que tornou possível a publicação destas obras no Arquivo Digital da PO.EX]